Filhos e pais (Foto: Freepik)

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Saúde

Os impactos da alienação parental no desenvolvimento infantil

Ressentimento e parentalidade: como a mágoa afeta a saúde mental dos filhos

A recente polêmica envolvendo a fala de Narcisa Tamborindeguy no programa De Frente com Blogueirinha trouxe à tona um debate essencial sobre o papel parental. Ao criticar a suposta diferença de atenção que Boninho, seu ex-marido, dedica à filha deles em comparação com a família atual (com Ana Furtado), Narcisa gerou discussões públicas sobre como a formação de um novo núcleo familiar afeta os filhos do relacionamento anterior.

A psicóloga Larissa Fonseca aponta que, embora não caiba julgar a intimidade de ninguém, o episódio ilustra um risco real. Quando as críticas ao ex-parceiro transcendem o diálogo privado e se tornam “repetição dentro de casa, na frente dos filhos,” isso “diminui o valor do pai ou da mãe e, portanto, o risco deixa de ser retórico e passa a ser emocional.” É nesse ambiente que o perigoso fenômeno da alienação parental encontra terreno fértil.

Ameaça ao pertencimento infantil

Uma criança não possui a maturidade para “interpretar nuances de mágoa, ressentimento ou disputas pós-divórcio. Ela só entende afeto e pertencimento,” explica Larissa Fonseca. Por isso, ao ouvir que um de seus pais é menos competente, presente ou digno, ela não processa a informação como uma simples opinião, mas sim como uma “ameaça” à sua segurança emocional.

Dra. Larissa Fonseca (Foto: Youtube)

A definição do fenômeno é simples: pesquisadores da Universidade de Cambridge o descrevem como “qualquer comportamento que interfere de forma injustificada na relação da criança com um de seus cuidadores”. Isso engloba insinuações constantes, falas repetidas que desqualificam ou geram medo, criando “rupturas emocionais que o cérebro infantil ainda não está pronto para elaborar.” A incapacidade da criança de separar o conflito conjugal do vínculo parental faz com que cada crítica abra “fissuras silenciosas na construção da segurança interna.”

O preço do estresse na infância

A ciência comprova o impacto desse ambiente tóxico. Estudos da Universidade de Illinois, conforme a autora menciona, demonstram que crianças frequentemente expostas a conflitos parentais têm níveis elevados de cortisol, o hormônio do estresse. A rotina de tensão coloca o cérebro infantil em um estado de alerta contínuo, prejudicando áreas como a memória, a regulação emocional e a qualidade do sono. A não elaboração do ressentimento pós-separação aumenta a chance de atitudes hostis na parentalidade, elevando o risco de irritabilidade e ansiedade na vida dos filhos.

A alienação parental muitas vezes nasce de uma dor legítima do adulto, mas rapidamente se desvia para uma estratégia de vingança, transformando a criança em uma “ferramenta emocional,” em vez de sujeito. A autora destaca que restringir o convívio sem justificativa concreta, denúncias infundadas ou manipular a rotina são formas de afetar a percepção de quem não tem capacidade cognitiva para se defender.

Para o desenvolvimento infantil, esse ambiente fragmentado reduz drasticamente a sensação de segurança e afeta “como ela vai compreender amor e confiança no futuro.” Pesquisas de Cambridge indicam que essas narrativas negativas levam as crianças a desenvolverem sentimentos de culpa e uma noção frágil de pertencimento, como se “amar um responsável significasse trair o outro.” A necessidade precoce de escolher um lado prejudica a formação da identidade, resultando em problemas emocionais que podem surgir na adolescência ou na vida adulta, fazendo-a crer que afeto é sempre culpa ou condicionamento.

É crucial, portanto, distinguir entre o conflito dos adultos e o direito fundamental da criança à segurança emocional. “O término é dos pais, mas a segurança emocional é dela,” reforça Larissa Fonseca. Ao limitar o vínculo sem um risco real, a referência essencial para o desenvolvimento é retirada. A psicóloga conclui com uma reflexão final contundente: “ninguém se torna melhor pai ou mãe diminuindo o outro, só se torna adulto usando uma criança para validar a própria dor.”

No fim, a questão central exige coragem: “Estamos cuidando do nosso filho ou estamos usando o nosso filho para cuidar da nossa mágoa? A resposta define quem está realmente protegendo e quem está apenas travando uma guerra que nunca deveria ter começado.”

Caso jurídico de Alienação Parental

A advogada Dra. Joanne Anunciação, conta que já atuou em um conflito delicado envolvendo o tema: “Atuo em processos que envolvem alegações de alienação parental. Já vivi uma situação delicada: uma cliente, para punir o genitor que havia pedido que ela abortasse, alegou falsamente que a criança tinha problemas de deglutição para impedir a convivência. Consegui para ela visitas controladas de 3h aos domingos, mas ela queria barrar totalmente o pai — inclusive pediu que eu ingressasse com Maria da Penha sem fundamento, e me recusei”

Dra. Joanne Anunciacao (Foto: Instagram)
Dra. Joanne Anunciação (Foto: Instagram)

A especialista em direito da família ainda passou a ser atacada pela ex-cliente. “Quando o genitor pediu liminar para ampliar de 3h para 7h e a juíza concedeu, ela exigiu que eu recorresse. Ao perceber que o objetivo era afastar a criança do pai de forma injusta, mantive minha postura ética. Depois disso, passou a atacar a magistrada, chamando-a de corrupta, e afirmou que iria me representar na OAB. Eu defendo mulheres, não injustiças. Abomino quando a lei é usada como vingança — isso enfraquece as verdadeiras vítimas e desvirtua a luta de quem realmente precisa de proteção”, conta Anunciação.

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