A transição energética no setor automotivo enfrenta forte desalinhamento entre conhecimento e atitudes práticas. O estudo analisou a percepção de pouco mais de 1 mil profissionais do setor automotivo, acadêmicos e engenheiros experientes sobre energia e meio ambiente.
Apesar de 73% dos entrevistados se considerarem acima da média em conhecimento sobre transição energética, muitas ações cotidianas contradizem essa consciência. A pesquisa da SAE Brasil ainda mostra que, embora eles reconheçam a urgência de reduzir emissões de gases de efeito estufa, decisões práticas ainda priorizam fatores econômicos e de desempenho sobre impactos ambientais.
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No abastecimento de veículos, por exemplo, 57% dos respondentes possuem carros flex, mas 29% preferem abastecer exclusivamente com gasolina, e apenas 22% usam etanol regularmente. Outros 23% alternam conforme preço, e apenas 17% consideram múltiplos fatores, incluindo impacto ambiental. Nenhum dos entrevistados escolhe o combustível baseado exclusivamente na sustentabilidade.
O comportamento corporativo segue o mesmo padrão: 67% afirmam que o custo é o principal critério em decisões sobre transporte e logística, seguido por desempenho e autonomia (47%), disponibilidade de combustível (41%) e impacto ambiental (39%).
Apesar de reconhecerem os biocombustíveis como solução mais viável para o Brasil, apenas 30% da frota flex utiliza etanol puro (E100). A percepção é que o País poderia liderar globalmente a transição energética, mas ações práticas ainda são limitadas.
Camilo Adas ressalta que a transição energética ainda não começou de fato. Enquanto investimentos globais em energia limpa somam apenas 20% do total do setor, combustíveis fósseis continuam predominantes, mantendo cerca de 80% da matriz energética mundial.
Sobre o desalinhamento entre discurso e prática, Adas afirma que a psicologia humana influencia as escolhas: “As pessoas não acham que é problema delas e terceirizam a questão para um ente impessoal: ‘Não sou responsável e quem resolve é a empresa, o banco, o governo ou a sociedade, alguém vai dar um jeito.’”
Adas defende que governos poderiam acelerar a transição por meio de legislações, regulamentações e campanhas de conscientização, criando incentivos e limitações que tornem a adoção de energias limpas um hábito social, semelhante à obrigatoriedade do cinto de segurança ou à proibição de gases CFC. O tempo para agir contra a crise climática, alerta, está se esgotando.








