Nos treinos, você presta atenção à respiração ou ela passa despercebida? Embora muitos saibam da importância da execução correta dos exercícios, a técnica respiratória ainda é frequentemente ignorada.
O momento e a forma da respiração durante o treinamento de força influenciam diretamente a ativação muscular, a estabilidade do core e a geração de potência, além de impactarem a postura da caixa torácica, coluna e pelve.
Conexão de força e respiração
O diafragma vai além de apenas movimentar o ar nos pulmões. Atuando como um estabilizador do core, ele trabalha em conjunto com o assoalho pélvico, os músculos abdominais profundos e os músculos das costas para manter o alinhamento postural e gerar pressão abdominal que protege a coluna.
Respirar corretamente durante os exercícios não significa apenas levar oxigênio aos músculos: é também ativar de forma consciente o sistema natural de estabilidade do corpo.
Hábitos respiratórios inadequados durante o treino de força podem gerar diversos problemas. Prender a respiração eleva a pressão arterial e limita a oxigenação dos músculos em atividade. Respirações superficiais, realizadas apenas no peito, sobrecarregam ombros e caixa torácica, fazendo outros músculos compensarem e causando tensão no pescoço e na região superior das costas. Além disso, respirar na fase errada do movimento pode enfraquecer a execução dos exercícios e aumentar o risco de lesões.
A importância da expiração nos exercícios
Expirar durante a fase de esforço é fundamental. Estudos mostram que sincronizar a respiração com os movimentos de força ensina o sistema nervoso a reconhecer que a posição é segura, diminuindo a tensão protetora e permitindo maior força e amplitude de movimento sem dor.
Ao expirar de forma consciente, diferentes mecanismos de estabilização do corpo são ativados simultaneamente. O diafragma se eleva, os oblíquos e o core profundo se contraem para alinhar a caixa torácica sobre a pelve e estabilizar a coluna. O assoalho pélvico se movimenta naturalmente, fortalecendo a conexão com as coxas internas, enquanto as omoplatas se acomodam em posição estável.
Essa coordenação cria estabilidade interna e alinhamento, permitindo que os grandes grupos musculares gerem mais força. O momento da respiração é tão crucial quanto a técnica: expirar na fase de esforço maximiza a ativação dos sistemas de estabilização quando o corpo mais assertiva.
Expiração para potencializar movimentos funcionais
Há quatro padrões de movimento fundamentais que sustentam tanto os exercícios quanto as atividades do dia a dia: empurrar uma porta, puxar objetos do carro, agachar para pegar algo ou girar para alcançar algo atrás de você. O segredo para aumentar força e estabilidade em todas essas ações é expirar durante a fase de esforço. Inspire pelo nariz e expire pelo nariz ou boca, escolhendo a forma que for mais confortável para você.
os exercícios de empurrar, como flexões, desenvolvimento acima da cabeça ou supino, é importante inspirar antes de iniciar o movimento e expirar durante a fase de esforço. Essa expiração ajuda a estabilizar o core e ativa o serrátil anterior, evitando que as omoplatas se projetem e permitindo gerar mais potência.
Nos movimentos de puxar, seja em remadas, barras fixas ou com faixas de resistência, inspire ao se estender ou pendurar e expire enquanto puxa. Respirar corretamente nesse momento ativa os romboides e os músculos da região média das costas, unindo as omoplatas e mantendo o core engajado, o que garante um movimento mais forte e controla
Durante o achamento, inspire ao descer e expire ao subir, sentindo as costelas se alinharem sobre a pelve para sustentar o movimento. A expiração ativa o core profundo e o assoalho pélvico, estabilizando a coluna e a pelve, enquanto os adutores contribuem para o controle da posição das pernas.
Em movimentos de rotação, como wood chops, swings de golfe ou torções espinais, inspire para preparar a postura e expire ao girar. A expiração envolve os oblíquos, ajudando a controlar e impulsionar a rotação, além de proteger a coluna e a lombar contra torques excessivos.
Quando prender a respiração e quando não
Embora a respiração coordenada seja recomendada para a maioria dos exercícios, prender o ar de forma breve e intencional pode ter utilidade em situações específicas.
A manobra de Valsalva, que consiste em inspirar profundamente e prender a respiração durante a força — aumenta a pressão intra-abdominal, ajudando a proteger a coluna e a região lombar em exercícios pesados, como levantamento terra e agachamentos.
No entanto, essa técnica deve ser utilizada apenas por praticantes experientes, que compreendem os riscos. Manter a respiração por muito tempo eleva consideravelmente a pressão arterial e não é indicada para quem possui problemas cardiovasculares. Para a maior parte das pessoas e exercícios, seguir padrões respiratórios coordenados continua sendo a opção mais segura e eficaz.
Potencializando a respiração no dia a dia
A respiração conecta o controle consciente às funções automáticas do corpo, equilibrando a segurança do sistema nervoso com a capacidade de executar movimentos fortes e funcionais. Além de ser essencial durante os exercícios, dedicar alguns minutos diários à respiração diafragmática contribui para regular o sistema nervoso e fortalecer padrões respiratórios mais eficientes.
Especialistas recomendam realizar pelo menos seis respirações diafragmáticas conscientes por dia. Para isso, sente-se ereto, com as mãos sobre as costelas inferiores, sentindo o movimento da caixa torácica a cada inspiração e expiração pelo nariz. O foco deve ser expandir a caixa torácica lateralmente, sem elevar os ombros ou inflar o peito, e prolongar levemente a expiração, observando as costelas retornarem sob as mãos.
O treino de força vai além do ganho muscular: ele oferece uma base segura para movimentos potentes e sem dor. A respiração é a peça-chave desse processo. Ao treinar a respiração em sincronia com os músculos, cria-se uma força integrada que o sistema nervoso pode utilizar de forma confiável.