O monarca britânico Rei Charles III passou por uma cirurgia devido a um aumento da próstata, condição conhecida como Hiperplasia Prostática Benigna (HPB). A HPB, caracterizada pelo crescimento não cancerígeno da glândula prostática, afeta muitos homens mais velhos, e o Rei Charles não é exceção. Dados da Sociedade Brasileira de Urologia, apontam que a doença afeta mais 50% dos homens acima de 50 anos e é ainda mais comum com o avanço da idade, chegando a 80% da população masculina com mais de 90 anos.
Mas afinal, do que se trata esse quadro e como ele surge? Dr. Paulo Egydio, médico PhD em urologia pela USP esclarece as principais dúvidas sobre o diagnóstico do monarca britânico. Confira:
Quais fatores de risco estão relacionados ao desenvolvimento de uma próstata aumentada?
O desenvolvimento de uma próstata aumentada está associado a diversos fatores de risco, porém a idade é um elemento crucial, uma vez que o risco aumenta com o envelhecimento.
Dr. Paulo Egydio, médico PhD em urologia pela USP ressalta a importância de ter uma rotina de exames e cuidados: “A partir dos 40 a 45 anos, é recomendável realizar avaliações urológicas periódicas. Essas avaliações permitem acompanhar o crescimento da próstata, avaliar o equilíbrio hormonal e adotar medidas para prevenir ou minimizar esse aumento ao longo da vida.”
Além disso, hormônios masculinos, em especial a testosterona, têm impacto no crescimento da próstata. Outros fatores incluem obesidade, sedentarismo e condições médicas como diabetes e doenças cardíacas.
Portanto, medidas preventivas como manutenção de um estilo de vida saudável, acompanhamento médico regular, e atenção à dieta e ao peso podem ajudar a controlar o crescimento da próstata, minimizando os sintomas obstrutivos e irritativos e, consequentemente, reduzindo a necessidade de intervenções cirúrgicas no futuro.
Quais são os sintomas mais comuns desta condição?
A próstata é uma glândula do tamanho de uma noz localizada logo abaixo da bexiga e na frente do reto, envolvendo a uretra. Quando a próstata aumenta, pode causar estreitamento do canal uretral, conhecido como uretra prostática.
Isso dificulta o esvaziamento da bexiga, que, sendo um músculo, começa a se hipertrofiar para vencer a resistência aumentada, levando a um espessamento e hipertrofia da parede da bexiga e, possivelmente, à formação de divertículos devido à alta pressão.
De acordo com o Dr. Paulo, os principais sintomas de uma próstata aumentada incluem:
- Sintomas obstrutivos, como diminuição do jato urinário e retenção urinária, resultando em um resíduo maior de urina após urinar.
- Sintomas irritativos, caracterizados por uma maior necessidade de urinar frequentemente e com urgência, incluindo acordar mais vezes à noite para urinar, o que pode perturbar o sono.
Quais são as opções de tratamento disponíveis para uma próstata aumentada?
Para realizar uma cirurgia de tratamento da próstata aumentada, primeiramente é feita uma avaliação criteriosa pelo urologista.
“Essa avaliação inclui a confirmação do aumento prostático e se este está causando obstrução à passagem da urina. Além dos sintomas, ultrassonografias podem ser úteis para avaliar as características da parede da bexiga e a quantidade de urina residual após a micção.”, complementa.
Ou seja, a decisão sobre a necessidade de tratamento, seja medicamentoso ou cirúrgico, é baseada não só nos sintomas clínicos e nos resultados da ultrassonografia, mas também no impacto do aumento prostático no esvaziamento da bexiga.
Para o monarca, a cirurgia é vista como uma medida para aliviar os sintomas urinários associados à condição e a expectativa é que a intervenção contribua para a saúde contínua do rei, que busca enfrentar esse desafio de saúde de maneira proativa.
Mas, o tratamento dos sintomas sem repercussão significativa para a bexiga é geralmente baseado em medicamentos, mudanças na dieta, redução do sobrepeso e atividade física regular. Estas medidas podem auxiliar a evitar um maior aumento da próstata e consequente obstrução
Como é decidida a melhor forma de tratamento?
A determinação do tratamento mais apropriado para cada paciente requer uma minuciosa avaliação dos sintomas obstrutivos ou irritativos da bexiga, tais como a redução do fluxo urinário, a frequência de visitas ao banheiro, despertares noturnos e a urgência de urinar. É crucial analisar se a próstata aumentada está impactando a bexiga, forçando-a.
“Nos casos de sintomas obstrutivos e irritativos sem grandes repercussões para a bexiga, os medicamentos podem ser muito eficazes, proporcionando uma boa qualidade de vida ao paciente. Entretanto, nos casos em que há obstruções com repercussão na bexiga, como bexiga de esforço ou divertículos de bexiga devido à pressão exagerada para vencer a obstrução da uretra prostática, pode ser necessária uma desobstrução cirúrgica”, diz o nosso entrevistado.
Esta cirurgia é geralmente realizada pela via uretral e é considerada tranquila, com excelentes resultados na melhoria da qualidade de vida. Porém, o Dr. Paulo reforça que cada paciente deve ser avaliado individualmente para decidir se é necessário o tratamento com medicamentos, e se o tratamento medicamentoso é suficiente para aliviar as dores e sintomas, evitando o tratamento cirúrgico desobstrutivo.
Por fim, de acordo com o Dr. Paulo, é importante entender que nem todo aumento da próstata necessita de tratamento. O aumento benigno não obstrutivo geralmente requer apenas acompanhamento. Por outro lado, o aumento maligno, que é o câncer de próstata, pode ser tratado independentemente de estar associado ao aumento benigno ou não.
O aumento maligno geralmente ocorre na periferia da glândula e não costuma causar obstrução ao fluxo urinário, muitas vezes não estando associado a sintomas prostáticos, sejam eles obstrutivos ou irritativos, especialmente em seu início. Por essa razão, é recomendável que homens a partir dos 40, e principalmente após os 45 anos, façam avaliações periódicas da próstata.
Estas avaliações incluem o exame de sangue para medir o PSA (antígeno prostático específico) e o toque retal para verificar a presença de nódulos. Em caso de suspeita, uma ressonância magnética nuclear multiparamétrica pode ser realizada para avaliar a necessidade de uma biópsia da próstata.
O lado bom é que com o avanço da tecnologia, até mesmo os casos de intervenções cirúrgicas têm sido menos invasivos e com menor comprometimento no dia a dia dos pacientes.