Nas redes sociais, os fonoaudiólogos artísticos ganham cada vez mais fama, grande parte das vezes, pelo reconhecimento de seus clientes. Ivete Sangalo declarou em vários momentos nesse Carnaval que tem uma “fono” a quem é muito grata. Luísa Sonza e Ludmilla também sempre dizem sobre as maravilhas de ter estes profissionais por perto. Afinal, virou moda ter um fono para chamar de seu?
“Este fenômeno não é novo, muito pelo contrário. Só no caso da Ivete, com sua fonoaudióloga, de quem sou amigo há muitos anos, a Janaína Pimenta, de Belo Horizonte, já são 30 anos de estrada. O que acontece atualmente é que há uma maior visibilidade do nosso trabalho por meio da mídia de forma geral. Associado a isso, temos o uso de tecnologias de ponta nos bastidores, como a fotobiomodulação (laser), a eletrofonoterapia (uso de corrente elétrica para certos objetivos), o ultrassom terapêutico, a termoterapia, entre outras, que fazem a diferença da entrega vocal e a promoção da sua saúde comunicativa”, explica o especialista em voz, o fonoaudiólogo e professor do curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário IBMR, Reynaldo Lopes.
Lopes salienta, porém, que estas tecnologias não substituem o trabalho clínico do “fonoaudiólogo especialista em voz” na escolha dos procedimentos fonoterápicos que são customizados para cada cantor em performance vocal. “Esses artistas são considerados por nós como atletas da voz, pois de fato os são”, resume Lopes.
Fonoaudiólogo há 30 anos, Lopes conta que a maioria dos seus “pacientes/clientes” são cantores de MPB, samba, pagode e atores de musicais no Rio de Janeiro. “Mas atendo pessoas não ligadas às artes, que me procuram para resolução de questões de saúde vocal, desde disfonias funcionais, organofuncionais e orgânicas”.
Personal “fono”
O professor explica que a sua atuação junto a cantores se faz por meio de avaliação vocal completa e com uso de tecnologias acústicas para melhor entender o funcionamento das suas vozes. Entre estas há inclusive uma avaliação do “perfil genético dos cantores, identificando seus padrões predominantes”.
A partir disso é feito o planejamento e execução de um “sistema fonoterápico”, onde se estabelecem alvos, metas e rotas para serem alcançados os resultados esperados. Definidos os alvos, o treinamento é iniciado para desenvolver a saúde vocal, a resistência e a flexibilidade das vozes dos cantores.
“Sempre quando é necessário estou presente no backstage dos cantores, tanto em shows como ainda em estúdio de gravação. Essas ações objetivam uma melhor preparação vocal e economia na produção musical. Tudo isso é feito em equipe, pois somos nós, fonoaudiólogos, trabalhando em conjunto com professores de canto e otorrinolaringologistas”, diz o professor do IBMR, sobre o caráter multiprofissional em prol da plena saúde vocal dos artistas. O Centro Universitário carioca é integrante do Ecossistema Ânima de educação.
Bateu uma vontade de ter um “fono” especializado em voz para lhe orientar também? Se você só canta debaixo do chuveiro e faz palestra só em bar, depois de umas cervejas, saiba que estes profissionais são aptos para atender a demandas de qualquer pessoa. “O público é o mesmo se ele busca ter saúde e efetivação na sua comunicação em qualquer situação da vida”, sintetiza Lopes. O processo de avaliação, a customização do planejamento fonoterápico também são semelhantes. “Talvez não haja necessariamente o acompanhamento de outros profissionais em seus campos de trabalho por nós, fonoaudiólogos, mas se isso for necessário, a lógica e a ação são as mesmas aplicadas em cantores”.
Assim como um personal trainer é importante para o condicionamento do corpo, é importante ter um “personal fono” para a rotina profissional? “É uma boa analogia. Os fonoaudiólogos especialistas em voz atuam com esta dinâmica. Somos os seus treinadores pessoais e sempre buscamos customizar os planejamentos dos seus treinos”, diz Lopes.
Advogados, médicos, professores, pastores, padres… O leque de profissões que têm o foco de atuação na voz é grande. E algumas inusitadas. Reynaldo Lopes diz que já teve um auditor fiscal como cliente. “Ele achava sua voz fina, o que não era de fato, baseado na acústica vocal. Fiz um trabalho de reconhecimento da sua voz e assim customizamos um planejamento que alcançou o esperado, sem alterar sua essência”, lembra.
Três dicas básicas para promoção de saúde vocal
1) Hidrate-se: ao beber água, você não hidrata somente o corpo, mas também as pregas vocais. Elas precisam disso. Faça isso várias vezes ao longo do dia e não de uma vez só.
2) Respire: busque respirar conscientemente de forma profunda algumas vezes ao dia. Isso vai promover uma melhor consciência corporal e diminuirá a ansiedade comum em grandes centros urbanos. Faça um ciclo de 20 inspirações e expirações profundas e lentas. Muito rapidamente você sentirá a diferença na sua qualidade de vida e na sua saúde vocal. Faça isso ao acordar e antes de dormir.
3) Não grite: o grito pode lhe machucar e com isso você pode vir a precisar de um fonoaudiólogo para se recuperar. Evite fendas, edemas, nódulos e pólipos vocais não gritando. Seja consciente. “E, cá entre nós, gritar, além de comprometer sua saúde vocal, é muita falta de educação”, alerta o professor.