Se a pandemia consolidou o conforto como palavra-chave na moda, o período pós-isolamento trouxe uma guinada para a formalidade – não apenas em eventos sociais, mas também no dia a dia. O estilo que antes era associado apenas ao ambiente corporativo agora se reinventa com novos nomes: office siren, demure e até “CLT Core“, em referência à Consolidação das Leis do Trabalho.
Esse movimento se desdobrou em diversas vertentes, sendo a mais marcante o quiet luxury, tendência que domina a moda desde o inverno 2022/23 e continua relevante. Agora, surge uma nova versão desse visual refinado, inspirada na estética preppy, mas com um toque mais rígido: suéteres bem engomados de cashmere, cardigãs sobre camisas de botão, gravatas estampadas e óculos de armação bold compõem o look, acompanhado de alfaiataria impecável em tons neutros como cinza, preto e marrom.
Marcas como Prada, Loewe, Miu Miu e The Row abraçaram essa estética, remetendo ao vestuário clássico de escritório dos anos 1990. No desfile de inverno 2023/24 da Miu Miu, a atriz Mia Goth reforçou esse visual ao desfilar com um cardigã cinza e saia-lápis de poás, evocando a imagem de uma secretária dos anos 1960 em um dia agitado. Na Prada e Loewe, o combo suéter + camisa listrada + saia-lápis reafirmou a tendência, trazendo um toque de nostalgia aliado à sofisticação.
Por trás dessa volta à estética intelectual, há um fenômeno cultural em ascensão: a valorização da leitura. Dados da Bienal do Livro de São Paulo de 2023 revelam um aumento expressivo no interesse por livros, enquanto uma pesquisa do instituto Pew Research apontou que 70% da geração Z prefere livros físicos. Marcas como Chanel e Miu Miu já perceberam esse movimento, promovendo clubes literários e iniciativas de incentivo à leitura.
Mais do que um retorno à formalidade, essa tendência reflete um desejo por profundidade e conhecimento em meio ao caos da desinformação. Na era do fast content, a moda resgata o luxo do tempo e do intelecto – e a leitura se torna o novo acessório essencial.