Carro (Foto: PIXABAY)

Carro zero mais caro, usado em alta: o retrato real do mercado automotivo brasileiro em 2025

Modelos zero-quilômetro estão mais caros e exigentes no crédito; usados ganham tração

Se você está planejando comprar carro em 2025, já deve ter percebido que os modelos zero-quilômetro ficaram mais caros e exigentes no crédito, enquanto os seminovos e usados vivem um momento de forte demanda.

O movimento não é impressão, é tendência sustentada por dados de preço, crédito e volume de vendas divulgados ao longo do ano por entidades do setor e por fontes oficiais. Em resumo: o novo pesa mais no bolso; o usado ganhou tração.

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Por que o zero ficou mais caro

O primeiro fator é o salto do ticket médio dos automóveis novos.

Em agosto, o preço médio efetivo de carros de passeio vendidos no país ultrapassou R$ 150 mil (R$ 152.727,40), segundo a consultoria K.Lume, com avanço de 3,4% sobre julho (R$ 147.769,80).

SUVs compactos e médios seguem puxando o varejo, o que eleva a conta final do consumidor.

A inflação oficial (IPCA) desacelerou em relação aos picos da pandemia, mas segue acumulada em 12 meses acima de 5%, patamar que, somado ao mix de produto mais caro e custos do setor, ajuda a manter os valores de tabela pressionados.

Crédito mais seletivo: juros altos e inadimplência

Mesmo quem encontra preços promocionais no zero-km esbarra no custo do financiamento.

Em 2025, a imprensa especializada registrou patamares historicamente elevados de juros para compra de carros, um freio direto para o consumidor pessoa física.

Além disso, a inadimplência acima de 90 dias nas operações de veículos voltou a subir e atingiu 5,2% em maio, o maior nível desde 2023, conforme dados reportados pelo Banco Central e compilados pelo setor.

Bancos reagem reduzindo prazos, exigindo entradas maiores e sendo mais rigorosos na análise, o que restringe a aprovação, especialmente no canal de varejo.

O efeito nos emplacamentos de zero-km

Com juros mais caros e crédito difícil, o ritmo do mercado interno ficou mais contido do que se esperava no começo do ano.

Em agosto, a Anfavea revisou para baixo a projeção de emplacamentos de 2025 para 2,765 milhões de unidades, sinalizando um crescimento menor do que o previsto anteriormente.

A mensagem por trás da revisão é clara: a demanda do varejo está mais fria, e o setor depende mais de vendas diretas e frotistas para fechar as contas.

Usado em alta: volume forte e recordes

Do outro lado da vitrine, o mercado de seminovos e usados avança em ritmo acelerado.

A FENAUTO reportou recordes pontuais ao longo do ano e um acumulado robusto de transferências:

  • Em julho, foram 1,71 milhão de veículos negociados, um salto de 16,6% sobre julho/2024. No acumulado até julho, 10,06 milhões de unidades, +14,2% ano a ano.

  • No 1º semestre, o volume alcançou 8,35 milhões de usados, +13,7% versus 2024, evidência de que a procura pelo “segundo dono” é o caminho mais viável para muitos orçamentos.

O quadro é coerente com o bolso do consumidor: quando o zero sobe e o crédito encarece, a busca migra para veículos mais acessíveis (inclusive com mais idade média), onde a parcela cabe melhor e a depreciação já “trabalhou” a favor de quem compra.

O que explica a preferência pelo usado em 2025

  1. Preço relativo mais atrativo
    A diferença de valor entre versões novas e equivalentes usadas aumentou. Em muitas categorias, é possível acessar um patamar superior de equipamento (itens de segurança e conforto) comprando um seminovo de 2–4 anos em vez do zero de entrada.

  2. Menor dependência de financiamento integral
    Em usados, entradas maiores e prazos mais curtos são comuns, reduzindo a exposição a juros altos, e facilitando a aprovação em comparação com operações “esticadas” no zero.

  3. Oferta abundante
    A normalização da produção pós-pandemia e o ciclo forte de vendas diretas nos últimos anos alimentaram o estoque de “ex-frotas” e seminovos no varejo, o que melhora a liquidez e negociação.

  4. Previsibilidade de custos
    Em modelos já consolidados, há mais histórico de manutenção e seguro. Junto com a depreciação já realizada, isso ajuda famílias a planejar melhor o custo total de propriedade.

Como decidir bem em 2025 (prático e direto)

1) Defina o uso e o teto de gasto real

Faça as contas a partir da parcela que cabe no orçamento (30% da renda é um bom limite agregado de dívidas), e não do valor de tabela. Considere seguro, IPVA, manutenção e consumo.

2) Compare o “novo de entrada” com o “usado equipado”

Coloque na mesma planilha: preço, juros, entrada, itens de segurança ativa (ESP, airbags, ADAS), conectividade e garantia remanescente. Muitas vezes, o seminovo que tem entre 2 a 3 anos entrega mais conteúdo e segurança pelo mesmo desembolso mensal.

3) Simule crédito em 3 bancos e avalie a entrada

Juros variam por perfil e instituição. Teste diferentes combinações de prazo e entrada, mesmo +5 p.p. de entrada pode derrubar bastante o custo total.

4) No usado: histórico é rei

Priorize revisões carimbadas, laudo cautelar, vistoria estrutural e pesquisa de sinistro/leilão. Desconfie de preços muito abaixo da média.

5) Custo total de propriedade

Consumo, seguro e revisão pesam. Um usado com seguro 20% mais barato e revisões previstas pode sobrar no orçamento frente a um zero com taxa pior.

Impactos regionais e setoriais

Em 2025, o mix de vendas favorece SUVs e crossovers no novo, enquanto picapes e compactos mantêm giro forte entre usados, reflexo das necessidades de trabalho e da busca por robustez.

O efeito prático é um estoque de seminovos mais “desejado” (com boa liquidez) e novos mais concentrados em faixas de preço altas, reforçando a migração do consumidor sensível à parcela.

A dinâmica também explica parte da revisão de projeções das entidades de indústria: o varejo puro (PF) oscila; frotas sustentam o volume.

O que esperar para os próximos meses

O cenário base aponta estabilidade com viés de alta no usado e um zero-km mais competitivo via campanhas pontuais, sobretudo em versões de entrada e em vendas diretas.

Se os juros de mercado caírem e a inadimplência recuar, as montadoras tendem a reacelerar o varejo, mas, por ora, o “custo de carregar” um carro novo segue alto, e o consumidor responde com racionalidade, preferindo o seminovo.

Retrato real do mercado em 2025

O “retrato real” de 2025 combina o novo mais caro, crédito seletivo e usado em alta.

Para quem pretende comprar carro agora, a decisão mais inteligente passa por simulação fria do custo total e por comparar, sem preconceito, um zero de entrada com um seminovo melhor equipado.

Os números do ano não deixam dúvida: as transferências de usados cresceram em dois dígitos, enquanto o mercado de zero revisou expectativas, um sinal claro de que a eficiência do gasto é a nova palavra de ordem na garagem do brasileiro.

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