É curioso quando paramos para pensar. Abrimos o YouTube ou o TikTok só para passar o tempo e, de repente, estamos vendo alguém assistir a um vídeo. E, por algum motivo, isso funciona. Há algo estranhamente reconfortante em ver um desconhecido rir da mesma piada, se assustar no mesmo momento ou ficar emocionado com uma música que já ouvimos dezenas de vezes.
Mas fica a pergunta: por que gostamos tanto desse tipo de conteúdo? O que faz os reacts prenderem tanta gente, a ponto de virarem um dos formatos mais assistidos da internet? Indo além: o que isso diz sobre a nossa cabeça e sobre como nos conectamos com outras pessoas no ambiente online?
Os vídeos de reação vão além do que você imagina
Os vídeos de reação podem ter qualquer tema, e isso explica parte do encanto. No Brasil, o esporte, especialmente o futebol, ocupa um espaço enorme no dia a dia do público. Para os torcedores, não faltam formas de se divertir online: dá para acompanhar jogos ao vivo, apostar no time preferido e, claro, assistir a criadores comentando lances, gols e polêmicas.
Mas o universo dos reacts não para no esporte. Há canais que focam em humor — como o Felca, que reage a tendências do TikTok, vídeos estranhos e situações que viralizam. Outros se dedicam ao mundo geek, caso de React Brasil ou Sim Sou Silva, que fazem vídeos assistindo a paródias, dublagens, animações e cenas de anime.
Também existem criadores que entram na onda dos vídeos bizarros, desafios, compilações de memes e momentos inesperados da internet, como o Leozin React, sempre mergulhando no conteúdo mais caótico possível.
Assim, não falta variedade. Tem reação para todos os gostos, e esse tipo de vídeo continua ganhando espaço porque agrada ao público. Agora vale entender por que isso acontece do ponto de vista psicológico.
Alguns (dos vários) efeitos psicológicos dos reacts
Assistir a um vídeo na internet é uma experiência satisfatória por si só, seja por mero entretenimento ou com fins reflexivos. Mas, e quando essa experiência acrescenta uma terceira pessoa? Veja os efeitos disso na sua mente:
- O fenômeno mais típico aqui é o espelhamento. A partir dos neurônios espelho, quem vê alguém reagindo a um vídeo sofre um efeito em que tende a sentir as mesmas emoções de quem assiste. Então, se o criador de conteúdo reage com raiva, alegria ou surpresa, há grandes chances de você sentir o mesmo.
- Sentimento de companhia — quando alguém navega pelas redes e vídeos sozinho e de repente encontra um terceiro que acompanha algo junto a ele, a sensação fica muito mais completa.
- Além da validação emocional, assistir ao vídeo de reação também gera conforto cognitivo. Ao invés de ter que lidar sozinho com as emoções que o conteúdo gera, o usuário tem mais alguém para facilitar o caminho. E o mesmo acontece na parte racional: quem reage ao vídeo já entrega, naturalmente, uma interpretação e reflexão prontas para seu interlocutor. Não é necessário pensar muito.
Uma dinâmica única
A indústria dos reacts não parou no tempo — pelo contrário, continua ganhando formas novas. Em países como a China e outras regiões da Ásia, surgiu o fenômeno danmu/danmaku, aqueles comentários que aparecem diretamente na tela enquanto o vídeo roda. Isso começou no mundo de animes e games, mas acabou se espalhando para filmes, séries e até vídeos populares do dia a dia. O resultado é uma sensação de multidão assistindo junto, mesmo quando a pessoa está sozinha no sofá.
Além disso, já existem serviços que permitem ver filmes, séries ou qualquer vídeo de forma sincronizada com amigos, ou até completos desconhecidos, como se todo mundo estivesse na mesma sala. Dá para conversar no chat, mandar reações e comentar cada cena em tempo real. É praticamente um react coletivo.
E tem mais: plataformas como o YouTube passaram a oferecer ferramentas para live reactions. O criador pode abrir uma transmissão ao vivo e reagir a outro conteúdo no mesmo momento, com comentários e emoções acompanhando o fluxo do que está acontecendo. Isso transforma o react em um formato próprio de transmissão ao vivo, não apenas algo gravado e editado depois.
Reagir para se sentir parte de algo
No fim das contas, os reacts fazem sucesso porque entregam algo simples e valioso: sensação de companhia. É o tipo de conteúdo que aproxima as pessoas, mesmo quando cada uma está assistindo do seu lado da tela.
E tudo indica que essa popularidade deve crescer. O formato já vem ganhando novas versões e tende a se espalhar por diferentes áreas, desde o entretenimento ao aprendizado. À medida que mais gente se conecta principalmente online, aumenta também o desejo de dividir momentos, risadas e descobertas enquanto assiste a algum vídeo. Reagir junto virou um jeito natural de estar perto.
Então, quando você der play naquele próximo vídeo em que alguém vê — e comenta — alguma coisa, talvez entenda melhor por que esse jeito de assistir conecta tanta gente.








