Ao longo de milênios, o concreto tem erguido os alicerces da construção civil, representando o principal pilar na história da edificação humana. Contudo, em consonância com a crescente consciência dos arquitetos e da sociedade em relação às mudanças climáticas, emerge uma reflexão sobre o impacto ambiental gerado pela indústria do cimento, situando-se como um dos principais pontos de debate contemporâneo.
Lucy Rodgers, em um artigo recente para a BBC News, destacou que a produção de cimento contribui com aproximadamente 8% das emissões globais de CO2. Essa informação alarmante foi divulgada durante a COP24 da ONU, na Polônia, ressaltando a urgência de reduzir as emissões de CO2 provenientes da produção de cimento em 16% até 2030 para cumprir os requisitos do Acordo Climático de Paris de 2015.
“Se a indústria do cimento fosse um país, seria o terceiro maior emissor de CO2 do mundo – atrás apenas da China e dos EUA. A indústria do cimento contribui com mais CO2 do que a queima de combustíveis fósseis pela frota global de aviões (2,5%) e não ficando muito atrás da indústria do agronegócio (12%)”, declarou Lucy.
A produção anual de cimento supera 4 bilhões de toneladas, emitindo mais de 1,5 bilhão de toneladas de CO2. A China lidera como o maior produtor e emissor, seguida pela Índia, UE e EUA. Apesar da estabilização do consumo na China, a produção global atingiu 4 bilhões de toneladas em 2014. Com o crescimento da construção no Sudeste Asiático e na África subsaariana, espera-se um aumento de 25% na produção até 2030.
Confira alguns impactos da produção de cimento no meio ambiente:
- Emissões de Dióxido de Carbono (CO2): A produção de cimento é uma das principais fontes de emissão de CO2, contribuindo para o aquecimento global e as mudanças climáticas durante o processo de fabricação, onde a calcinação do calcário libera dióxido de carbono como subproduto.
- Consumo de Recursos Naturais: A extração intensiva de matérias-primas como calcário, argila e gesso para a produção de cimento leva à degradação de ecossistemas locais, perda de biodiversidade e fragmentação do habitat.
- Poluição do Ar: Além do CO2, a produção de cimento libera poluentes atmosféricos como dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx) e partículas em suspensão, causando problemas de saúde respiratória e contribuindo para a formação de chuva ácida.
- Consumo de Energia: O processo de fabricação de cimento é altamente energo-intensivo, utilizando fontes não renováveis como carvão e petróleo, o que aumenta as emissões de gases de efeito estufa e a demanda por combustíveis fósseis.
- Impactos na Água e no Solo: A produção de cimento pode contaminar a água e o solo com resíduos sólidos, efluentes líquidos e poeira das operações fabris, afetando negativamente os ecossistemas aquáticos, a qualidade da água potável e a fertilidade do solo.
Entretanto, no âmbito das emissões no setor, destaca-se que mais de 90% delas, conforme apontado pelo relatório da BBC, têm sua origem intrínseca ao processo de produção do “clínquer” – componente crucial na fabricação do concreto.
No processo de fabricação do clínquer, as indústrias usam um forno rotativo aquecido a mais de 1400 graus Celsius. Neste forno, uma mistura de calcário moído, argila, minério de ferro e cinzas é queimada, resultando em óxido de cálcio e CO2 liberados na atmosfera. O clínquer é produzido a partir dessa mistura. Em seguida, a matéria-prima do concreto é resfriada, moída e misturada com calcário e gesso para criar o cimento, pronto para ser distribuído globalmente.
Fonte: ArchDaily