O relatório intitulado “A fraude na reciclagem do plástico”, elaborado pela instituição norte-americana Centro para a Integridade Climática (CCI) e divulgado em fevereiro, apresentou descobertas inquietantes: revelou que as grandes corporações petrolíferas e a indústria do plástico ocultaram informações que possuíam desde os anos 80 sobre as limitações da reciclagem na mitigação da poluição plástica.
Documentos recentemente revelados, detalhados em 68 páginas, indicam que já se tinha conhecimento, por exemplo, de que o processo de reciclagem resulta em um material de qualidade inferior e menos eficiente, e que o custo do plástico reciclado é superior ao da produção de plástico virgem, desencorajando assim o interesse da indústria na reutilização.
A questão econômica desempenhou um papel crucial desde o início e, conforme o relatório, é o principal motivo pelo qual a reciclagem do plástico não acompanhou o ritmo da produção industrial global, que saltou de 2 milhões de toneladas em 1950 para mais de 450 milhões hoje. Embora a reciclagem tenha atingido seu ápice nos EUA em 2014, com o reaproveitamento de 10% do total descartado, equivalente a 5 milhões de toneladas de resíduos.
No Brasil, apenas 1,28% do lixo plástico é encaminhado para reciclagem. O relatório responsabiliza as grandes empresas petrolíferas como a Chevron, ExxonMobil, Shell, entre outras, pela crise atual dos resíduos plásticos e exige reparação.
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Carolina Alcoforado, diretora de Novos Negócios e Inovação da Melhoramentos, ressalta que o consumo global de polímeros fósseis, que são os plásticos feitos a partir de óleo e petróleo, cresceu mais de 20 vezes em poucas décadas. “Isso é representativo da nossa sociedade consumista. Houve um avanço tecnológico? Sim, mas ao mesmo tempo, mais da metade desses produtos são plásticos de uso único”, afirma em entrevista ao ESG Insights.
Os efeitos desse aumento desenfreado no consumo são evidenciados pela pesquisa da Oceana Brasil, que aponta que 8 milhões de toneladas desses resíduos de uso único acabam nos oceanos, o que equivale a aproximadamente 500 bilhões de itens de consumo descartados por ano.
“Segundo dados do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), o Brasil é um dos maiores geradores de lixo plástico do mundo, totalizando 11,3 milhões de toneladas. Porém, apenas 1,28% desse total é efetivamente reciclado. É um dos menores índices do mundo”
Carolina Alcoforado, citando dados do WWF Brasil
Do total de plásticos produzidos no Brasil, o PET (sigla para polietileno tereftalato), usado em garrafas de refrigerante e água mineral, é o único com uma alta taxa de reciclagem, chegando a 60%, de acordo com o Atlas do Plástico, um estudo realizado pela organização sem fins lucrativos alemã Fundação Heinrich Böll.
Ainda segundo Alcoforado, não basta ter um programa de reciclagem ou logística reversa. É necessário promover uma cultura de reutilização adequada, ou seja, a educação é crucial. Ela explica que talheres de plástico, por exemplo, atualmente não têm um destino previsto nem mesmo no Plano Nacional de Resíduos Sólidos.
“Por que utilizar uma embalagem por 10 minutos, sabendo que seu impacto persistirá por 100 anos?”, questiona. “O que você faz com esse talher, com esse canudo, com essa sacola plástica? Eles vão para lixões. É importante pensar em como reter esse material antes que ele caia no oceano ou na floresta, mas também é fundamental investir no desenvolvimento de novas tecnologias, que é o nosso foco de pesquisa”, diz Alcoforado.