“Menos de 25% dos municípios no Brasil têm coleta seletiva. E, quando tem, nem sempre existe infraestrutura adequada.” A frase de Valéria Michel, diretora de sustentabilidade da Tetra Pak para o Brasil e Cone Sul, aponta para um problema grave: a reciclagem de embalagens, especialmente as cartonadas longa vida, ainda esbarra em um sistema frágil, desestruturado e excludente.
A tecnologia já não é mais o problema. Segundo Valéria, o produto é reciclável em escala e em qualquer lugar do país. O que falta é um sistema que funcione. A empresa, que produziu 17,3 bilhões de embalagens no Brasil só em 2024 (com faturamento de R$ 8,6 bilhões), investiu R$ 26,2 milhões em sustentabilidade no último ano. Mas, mesmo com todos os esforços, apenas 39% das embalagens foram efetivamente recicladas.
A razão? Um sistema que precisa ser reconstruído do zero.
“A infraestrutura das cooperativas é muito precária. Muitos catadores não têm nem RG. Começamos oferecendo prensas, balanças, apoio contábil. Agora, criamos os projetos a partir da demanda deles.”
O trabalho vai além da reciclagem: trata-se de reconstruir um ecossistema inteiro, onde inclusão social é peça-chave. “Por mais que empresas invistam, é preciso escala. E isso só vem com políticas públicas.”
Enquanto países europeus contam com sistemas automatizados de triagem, o Brasil ainda depende de um modelo informal e muitas vezes invisível. Mesmo assim, Valéria enxerga potencial. “Aqui, nosso papel é também o de transformar vidas. Estamos perto das pessoas e sabemos suas dores. É o que costumamos dizer: você está a uma caixinha de mudar a vida de uma pessoa.”