Pode até parecer ironia, mas o Brasil joga fora cerca de 200 toneladas de dinheiro todos os anos. As cédulas são descartadas por erros de corte, impressão ou outros defeitos ainda dentro da Casa da Moeda. O destino tradicional seria o coprocessamento: elas viram combustível para fornos de cimento. Mas nem toda essa fortuna vai parar no fogo.
Parte dela ganha um novo ciclo por meio de um projeto que transforma cédulas inutilizadas em cadeiras, mesas, pufes e até camas. “Temos um pufe feito com R$ 25 milhões em notas rasgadas”, diz Patricio Mariano Malvezzi, CEO da empresa responsável pela iniciativa. O consumidor, nesse caso, pode literalmente sentar em uma fortuna.
Por trás da sofisticação dos móveis, há também uma crítica à efemeridade do dinheiro. “No Brasil, há uma política restrita sobre a estética. A nota não pode ter duas dobras – se tiver, o Banco Central retira de circulação”, explica Malvezzi. Em média, uma nota sobrevive apenas três anos. Com os objetos de decoração, esse tempo de vida pode passar de um século: “Damos mais de 100 anos de vida a uma matéria-prima que durava apenas 3”, completa.
As cédulas brasileiras têm estrutura tripla: camadas externas feitas de pasta de madeira e, ao centro, algodão puro. Elas precisam sair da Casa da Moeda impecáveis. Pequenos defeitos já são motivo para o descarte. Só que, com criatividade, até isso pode se transformar em algo valioso.
O empresário afirma que mantém contrato com a Casa da Moeda, que vende os resíduos já picotados. Misturando o papel-moeda com outros materiais, como poliéster ou plástico reciclado, surgem peças únicas – de estátuas decorativas a filamentos para impressoras 3D. “O papel-moeda hoje tem um valor intrínseco muito importante”, afirma.