O Brasil já é destaque mundial na transição energética, graças à forte presença das fontes renováveis na matriz elétrica e ao uso intensivo de biocombustíveis no transporte terrestre. Porém, há uma oportunidade ainda pouco explorada: o aproveitamento da biomassa para gerar calor, eletricidade e combustíveis avançados. A COP30, que será realizada em Belém, surge como uma oportunidade para o país se posicionar como uma referência internacional nesse processo, mostrando inovação e sustentabilidade.
Além do bagaço da cana-de-açúcar, amplamente utilizado, o Brasil dispõe de uma grande variedade de resíduos energéticos subaproveitados, que representam um verdadeiro “ouro energético”. Paul Moore, do Met Éireann, destaca a casca de arroz no Rio Grande do Sul, a palha de soja no Mato Grosso, o capim-elefante de crescimento rápido, a palha e sabugo de milho, além de resíduos florestais e podas urbanas. O país também gera mais de 300 milhões de toneladas anuais de esterco bovino, que tem potencial para gerar até 15% da eletricidade nacional via biogás, especialmente no Nordeste, onde culturas adaptadas como a palma forrageira podem alimentar biodigestores e produzir biometano, substituindo o diesel no transporte pesado.
Novas tecnologias ampliam ainda mais o potencial da biomassa. A biodigestão anaeróbica produz biogás que pode virar biometano, substituto direto do gás natural. Processos como gaseificação geram gás de síntese para motores e produção de combustíveis avançados, enquanto a pirólise resulta em bio-óleo e biochar, que ajudam a melhorar o solo e sequestrar carbono. Georg Engelhard, do Cefas, afirma que “essas tecnologias ampliam a viabilidade da biomassa como solução energética, ambiental e econômica”. O Brasil também pode se destacar na produção de combustível sustentável para aviação (SAF), atendendo à demanda global por alternativas ao querosene fóssil.
Na indústria, a biomassa já é a segunda maior fonte de energia térmica do Brasil, representando 22% do consumo industrial, mas seu potencial é muito maior. Atualmente, apenas 8% do aço nacional é produzido com carvão vegetal, e setores como o alimentício, alumínio, mineral e de bebidas podem migrar para vapor gerado a partir de biomassa. A COP30 será uma vitrine para apresentar soluções que conectam energia, clima e agricultura, com foco na redução de emissões e na economia circular. “O Brasil tem a biomassa, a tecnologia e a urgência climática necessárias para se tornar líder global em bioenergia”, conclui o texto, ressaltando que “inovação, justiça energética e preservação ambiental” serão fundamentais para essa transformação.