Caminhada (Foto: Freepik)

Entenda

Tempo de duração da caminhada é mais relevante do que quantidade de passos, indica pesquisa

Estudo mostra que caminhadas contínuas geram mais benefícios à saúde do que trajetos curtos ao longo do dia

Um estudo conduzido por pesquisadores espanhóis aponta que níveis mais baixos de caminhada diária estão associados a um risco maior de morte por doenças cardiovasculares e câncer. Embora outras pesquisas já tenham relacionado o hábito de caminhar a uma vida mais longa e saudável, este trabalho se destaca por ir além da contagem de passos, ao analisar também por quanto tempo a atividade precisa ser mantida para gerar benefícios reais à saúde.

De acordo com um artigo publicado em outubro na revista Annals of Internal Medicine, quanto maior o tempo contínuo em movimento, mais expressivos são os ganhos para a saúde. A pesquisa avaliou informações de cerca de 33 mil participantes do UK Biobank, estudo britânico que monitora voluntários com foco em saúde e prevenção de doenças.

Os participantes analisados caminhavam até 8 mil passos por dia, tinham idade média de 62 anos no início do acompanhamento e não apresentavam doenças prévias.

Após oito anos de acompanhamento, os dados indicam que caminhadas realizadas em períodos mais longos e contínuos têm maior impacto na longevidade do que deslocamentos curtos espalhados ao longo do dia. O estudo aponta que a forma como os passos são distribuídos ao longo do tempo faz diferença para a saúde.

A taxa de mortalidade foi mais elevada entre pessoas que caminhavam continuamente por menos de cinco minutos diários: nesse grupo, 4,36% morreram durante o período analisado. Já entre os participantes que mantinham caminhadas ininterruptas por mais de 15 minutos, o percentual caiu para 0,84%.

A ocorrência de doenças cardiovasculares seguiu a mesma tendência observada na mortalidade. Entre os participantes que caminhavam de forma contínua por menos de cinco minutos, 13,03% desenvolveram problemas cardíacos. Já no grupo que mantinha períodos mais longos de caminhada, o percentual caiu para 4,39%.

Segundo a cardiologista e médica do esporte Luciana Janot, do Hospital Israelita Albert Einstein, a ciência já demonstra que acumular passos ao longo do dia é um fator central de proteção à saúde do coração. “Cerca de 7 mil passos diários já reduzem significativamente o risco cardiovascular. No entanto, há um ganho adicional quando parte dessa atividade é realizada em caminhadas contínuas de, no mínimo, 15 minutos”, explica.

Os benefícios do hábito de caminhar incluem a redução do risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e depressão. Para isso, porém, é importante adotar a estratégia correta. “O ideal é combinar três elementos: volume de passos, frequência e períodos de atividade sem interrupção”, destaca a especialista.

Esse conjunto de fatores não exige, necessariamente, alta intensidade. Estudos mais recentes indicam que caminhar em ritmo acelerado não é indispensável para obter resultados. Para quem deseja sair do sedentarismo, o mais importante é manter a regularidade, percorrer distâncias maiores e sustentar a caminhada por mais tempo. “Não é preciso chegar ao ponto de ficar sem fôlego. Um ritmo confortável, desde que contínuo, já é suficiente”, orienta Janot.

Caminhar para viver mais

O estudo conduzido por pesquisadores espanhóis indica que caminhadas realizadas de forma contínua exercem um efeito protetor maior por manterem o coração ativo por períodos prolongados. Esse estímulo favorece a circulação sanguínea e contribui para maior elasticidade das artérias, fatores essenciais para a saúde cardiovascular.

De acordo com os dados analisados, os idosos que dedicavam menos tempo a caminhadas ininterruptas apresentaram os piores desfechos relacionados ao coração.

Para o médico do esporte Borja Del Pozo Cruz, autor principal da pesquisa, caminhadas mais longas são especialmente benéficas para pessoas que antes eram sedentárias. “Esse tipo de atividade ativa de maneira mais consistente os mecanismos cardiovasculares e metabólicos, como o controle da glicose e a função vascular, que não são plenamente estimulados por períodos curtos de movimento”, afirmou à Agência Einstein. Segundo ele, sessões prolongadas também contribuem para a ativação do sistema nervoso parassimpático e para a redução de processos inflamatórios.

Considerar o tempo de duração da atividade física ajuda a compreender que nem todos os passos dados ao longo do dia têm o mesmo impacto. Para o pesquisador Borja Del Pozo Cruz, as recomendações de saúde precisam ir além da simples contagem de passos. “As diretrizes deveriam levar em conta não apenas a quantidade, mas também a qualidade e a forma como esses passos são acumulados. Além disso, o tempo de atividade é uma métrica mais simples e intuitiva para a população”, conclui o especialista.

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