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Saúde

O alimento ultraprocessado que pode fazer bem à saúde e ao planeta

Apesar dos benefícios ambientais e nutricionais, produtos à base de plantas ainda sofrem com preconceito de parte dos profissionais de saúde e consumidores

Especialistas em nutrição e sustentabilidade voltaram a destacar a importância de ampliar o consumo de carnes vegetais, mesmo diante da resistência crescente à sua imagem no mercado. Embora muitas dessas alternativas imitem sabor, textura e até a aparência da carne animal com bastante fidelidade, elas vêm sendo rotuladas por parte do público e profissionais de saúde como ultraprocessadas, o que tem prejudicado sua aceitação.

De acordo com o Good Food Institute, a substituição de hambúrgueres de carne bovina por versões vegetais pode reduzir em até 98% as emissões de gases de efeito estufa e diminuir em 97% a necessidade de uso da terra. Ainda assim, depois de um início promissor, o interesse do público americano por esses produtos começou a esfriar nos últimos meses.

Para Roberta Alessandrini, cientista nutricional e diretora da Dietary Guidelines Initiative da PAN International, a desconfiança vem, em parte, dos próprios profissionais da saúde. “Médicos e nutricionistas relutam em considerar proteínas alternativas ao aconselhar pacientes sobre nutrição porque veem esses alimentos como ultraprocessados”, afirmou Alessandrini, que é coautora de um estudo da PAN International em parceria com o Good Food Institute. “No entanto, se escolhidos com cuidado, esses alimentos podem ser uma maneira válida e útil de mudar para dietas mais baseadas em vegetais, que são boas para as pessoas e para o planeta”, completou.

Especialistas reforçam que incentivar o consumo de alternativas vegetais se tornou urgente, já que a produção mundial de carne, uma das maiores fontes de emissão de gases poluentes, deve crescer 52% até 2050 em relação aos níveis de 2012, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura).

Walter Willett, professor da Harvard T.H. Chan School of Public Health, defendeu que ampliar as opções à base de plantas pode trazer benefícios concretos. “Há uma urgência tão grande relacionada às mudanças climáticas, à degradação ambiental e à saúde pública que precisamos dar às pessoas o máximo de opções possível, incluindo alternativas de carne à base de plantas”, afirmou. Ele também ressaltou que a composição da carne bovina, especialmente pela gordura saturada, é tão nociva que “é muito fácil ser melhor que isso”.

Segundo Willett, os nutrientes que não são encontrados naturalmente nas plantas, como a vitamina B12, podem ser adicionados aos produtos da mesma forma que o leite é fortificado com vitaminas A e D. “Acho que realmente precisamos analisar cada um desses novos produtos com base em seus próprios méritos”, concluiu.

Produtos que imitam carne com origem vegetal, por definição, são classificados como ultraprocessados. Isso porque a produção exige processos tecnológicos avançados para reproduzir a textura e o comportamento da carne, como impressão 3D, resfriamento e aquecimento intensos e extrusão. Essas carnes também incluem aditivos como corantes, conservantes, emulsificantes e estabilizantes.

A marca Impossible Burger, por exemplo, usa um organismo geneticamente modificado para sintetizar heme, uma molécula que simula o sangramento típico da carne bovina. Ainda assim, empresas como Beyond Meat e Impossible Foods afirmam ter melhorado a qualidade nutricional de seus produtos desde que chegaram ao mercado. O Beyond Burger, por exemplo, já está em sua quarta formulação.

Para a nutricionista Joy Bauer, consultora da Beyond Meat, o debate precisa ser mais equilibrado. “A conversa precisa mudar significativamente quando se trata de alimentos ultraprocessados, porque eles nunca vão desaparecer — as pessoas querem alimentos fáceis e convenientes”, disse Bauer. “Precisamos chegar a um ponto em que comecemos a avaliar alimentos ultraprocessados porque alguns são super saudáveis e podem ajudar as pessoas a seguirem em direções positivas em suas vidas”, concluiu.

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