Consumir uma dieta rica em gordura, comum em fast-food, já pode afetar o cérebro em quatro dias, aponta estudo da Universidade da Carolina do Norte. Pesquisa publicada na revista Neuron em 11 de setembro mostra como esse padrão alimentar altera as células ligadas à memória.
Experimentos com camundongos indicam que alimentos ricos em gordura diminuem a capacidade do cérebro de utilizar a glicose, principal fonte de energia. A alteração provoca hiperatividade em interneurônios CCK do hipocampo, células essenciais para o funcionamento da memória.
De acordo com a pesquisadora Juan Song, líder do estudo, os impactos da dieta foram percebidos de maneira rápida e inesperada. ‘Sabíamos que a alimentação e o metabolismo influenciam a saúde cerebral, mas não imaginávamos que essas células fossem tão sensíveis nem respondessem tão rapidamente’, declarou em nota.
Efeitos do fast-food no cérebro
Em testes com camundongos, apenas quatro dias seguindo uma dieta rica em gordura, típica do estilo ocidental de fast-food, foram suficientes para causar hiperatividade nos interneurônios CCK. A alteração comprometeu a comunicação normal entre células do hipocampo e provocou queda no desempenho da memória.
Pesquisadores identificaram que a proteína PKM2, que regula o uso de energia pelas células cerebrais, se desregula quando a glicose disponível diminui. Isso faz com que os neurônios gastem energia de forma ineficiente, comprometendo a formação de novas memórias. Os achados mostram que os circuitos de memória são altamente sensíveis à alimentação: mesmo sem sinais de obesidade ou diabetes, o consumo frequente de alimentos ultraprocessados e ricos em gordura saturada pode prejudicar o cérebro.
Danos à memória são reversíveis
Os pesquisadores destacam que o cérebro é capaz de se recuperar. Ao restaurar os níveis de glicose, a atividade dos interneurônios voltou ao normal e os camundongos recuperaram a memória.
Além disso, a equipe constatou que o jejum intermitente, que alterna períodos de alimentação e abstinência, contribuiu para normalizar o funcionamento dos interneurônios CCK e restabelecer o equilíbrio energético cerebral.
Nosso estudo demonstra que a alimentação pode impactar rapidamente a saúde do cérebro e que intervenções precoces, como jejum ou ajustes na dieta, podem preservar a memória’, afirmou Song. Ela acrescentou que essas medidas podem ajudar a reduzir o risco de declínio cognitivo a longo prazo, incluindo doenças relacionadas à obesidade e ao Alzheimer.
A equipe de pesquisadores pretende agora avaliar se os mesmos efeitos ocorrem em humanos e se mudanças simples na alimentação podem proteger o cérebro dos impactos de alimentos ultraprocessados.