Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em parceria com a University College London, no Reino Unido, revelou que idosos com deficiência de vitamina D apresentam maior risco de desenvolver lentidão ao caminhar. A pesquisa, publicada na revista Diabetes, Obesity and Metabolism, acompanhou participantes ao longo de seis anos e apontou que o problema pode impactar diretamente a independência e a qualidade de vida na velhice.
A análise indicou que a velocidade de marcha inferior a 0,8 metro por segundo é um importante sinal de alerta para perda de autonomia, além de estar associada a riscos como quedas, internações e até mortalidade. “Com isso, a vitamina D se torna um marcador importante para identificar mais precocemente o risco de lentidão da caminhada e serve como um alerta para uma velhice com possíveis dificuldades de mobilidade”, afirmou Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia da UFSCar e um dos autores do trabalho, financiado pela FAPESP. “Como a lentidão da caminhada está associada ao maior risco de dependência funcional e desfechos adversos, o monitoramento dos níveis de vitamina D, principalmente em pessoas idosas, também deve ser priorizado nos diversos contextos clínicos e serviços de saúde”, acrescentou Alexandre.
A pesquisa contou com dados de 2.815 pessoas com 60 anos ou mais, todas participantes do English Longitudinal Study of Ageing (ELSA), no Reino Unido. Inicialmente, apenas idosos sem alterações na velocidade da marcha foram incluídos. Os níveis de vitamina D no sangue foram medidos no início, e a velocidade de caminhada foi reavaliada periodicamente ao longo dos seis anos seguintes.
Os resultados mostraram que idosos com deficiência de vitamina D, definida como menos de 30 nmol/L, apresentaram 22% mais risco de desenvolver lentidão em comparação aos que tinham níveis adequados, acima de 50 nmol/L. A insuficiência, entre 30 e 50 nmol/L, não demonstrou associação significativa com a diminuição da velocidade.
Segundo os autores, a marcha lenta pode ter causas variadas, e a deficiência de vitamina D é uma delas. “A vitamina D tem um papel importante no sistema musculoesquelético, pois, ao ser sintetizada pela luz solar, atua nas células musculares regulando a entrada e saída de cálcio, o que permite a contração muscular, por exemplo. Portanto, quando há deficiência de vitamina D, esse fluxo é prejudicado”, disse Mariane Marques Luiz, professora da UFSCar e responsável pela pesquisa durante o doutorado.
Ela explicou ainda que a falta da vitamina interfere na produção de proteína muscular, já naturalmente reduzida com o envelhecimento, e também afeta o sistema nervoso. “Além da questão muscular, a carência de vitamina D tem repercussão no sistema nervoso central e periférico, comprometendo a marcha pela lentidão na transmissão dos estímulos neuronais para a caminhada”, afirmou.
O estudo confirmou que a deficiência de vitamina D aumenta o risco de lentidão na marcha independentemente de fatores como idade, sexo, raça, escolaridade, nível de atividade física, tabagismo, diabetes ou outras doenças crônicas. “Como um indicador muito importante, seu monitoramento deve ser considerado para a manutenção de um envelhecimento saudável. Mas é preciso cuidado, pois a lentidão da marcha é um problema multifatorial e é sabido que a suplementação excessiva da vitamina D traz toxicidade”, ponderou Alexandre.
Nos últimos anos, a vitamina D vem sendo associada a benefícios para o sistema imunológico, cardiorrespiratório, neurológico e musculoesquelético, embora também seja alvo de informações falsas. “Não é que a vitamina D sirva para tudo, é que ela é importante em vários órgãos e sistemas do organismo. Praticamente todas as células do corpo possuem receptores de vitamina D. Quando a pele é exposta ao sol, uma substância presente nas camadas mais profundas é ativada pela ação dos raios ultravioleta. Essa substância passa por processos metabólicos e se transforma na forma ativa da vitamina D. Para atuar nos tecidos, essa vitamina precisa se ligar aos receptores específicos. Como esses receptores estão presentes em todo o corpo, a vitamina D consegue exercer suas funções em diversas áreas”, explicou Mariane Luiz.
Ela destacou ainda que, com o envelhecimento, há uma queda natural na produção e disponibilidade da vitamina. “À medida que se envelhece, há uma redução da biodisponibilidade da substância precursora da vitamina D, que ocorre pelo afinamento da pele. Também há uma diminuição do número de receptores de vitamina D nas células dos diferentes tecidos, o que reduz a capacidade de síntese cutânea e distribuição de vitamina D aos tecidos. Por isso o monitoramento é tão importante nessa faixa etária, pois o declínio relacionado à idade nos níveis de vitamina D pode diminuir as reservas fisiológicas desses sistemas, desencadeando vários problemas, entre eles a perda da mobilidade”, disse a pesquisadora.