Passar horas sentado já faz parte do dia a dia de muitos brasileiros, e esse hábito, embora comum, pode trazer prejuízos discretos ao coração. Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido, aponta que o consumo de alimentos ricos em flavonóis, como cacau, chá, maçãs e frutas vermelhas, pode ajudar a resguardar os vasos sanguíneos dos impactos provocados pelo sedentarismo.
Pesquisas anteriores já demonstravam que até pequenas reduções na função vascular podem aumentar o risco de infartos e AVCs. Com isso em mente, os pesquisadores buscaram avaliar se ajustes simples na dieta seriam capazes de minimizar esses efeitos.
A função dos flavonóis no organismo
Esses compostos naturais, encontrados em frutas, nozes, chás e no cacau, têm sido associados à melhora da saúde cardiovascular e à capacidade do corpo de enfrentar diferentes tipos de estresse. O trabalho, divulgado no Journal of Physiology em 29 de outubro, reforça essas evidências e aponta que os flavonóis podem desempenhar um papel importante na proteção dos vasos sanguíneos.
“Permanecemos por longos períodos sentados e, mesmo em repouso, o corpo continua sujeito a diferentes formas de estresse. Identificar estratégias para minimizar esses efeitos sobre o sistema vascular pode ser um caminho para reduzir o risco de doenças cardíacas”, afirma Catarina Rendeiro, professora assistente de Ciências da Nutrição e autora principal da pesquisa, em nota divulgada pela universidade.
Como o estudo foi feito
Os pesquisadores analisaram 40 homens jovens e saudáveis, divididos entre aqueles com maior preparo físico e outros com condicionamento mais baixo. Antes de permanecerem sentados por duas horas, os voluntários ingeriram uma bebida concentrada em flavonóis do cacau ou uma versão com quantidades muito reduzidas do composto.
Mulheres não foram incluídas devido às variações hormonais ao longo do ciclo menstrual, que poderiam influenciar as respostas ao consumo de flavonóis. Durante o experimento, foram medidos parâmetros como pressão arterial, oxigenação dos músculos das pernas e a dilatação mediada pelo fluxo nas artérias dos braços e das pernas.
Os resultados revelaram que os participantes que ingeriram a bebida com baixo teor de flavonóis apresentaram uma deterioração evidente na função vascular. As artérias mostraram menor capacidade de dilatação, a pressão diastólica subiu e o fluxo sanguíneo diminuiu.
Essas alterações apareceram tanto nos voluntários com melhor preparo físico quanto nos menos ativos, sugerindo que estar em boa forma não é suficiente para neutralizar os efeitos de permanecer sentado por longos períodos.
Entre aqueles que consumiram a bebida rica em flavonóis, porém, o cenário foi outro: a função vascular permaneceu preservada, e as artérias seguiram reagindo de maneira semelhante ao que foi registrado antes das duas horas de sedentarismo. Esta é a primeira pesquisa a demonstrar esse tipo de proteção em homens jovens e saudáveis, sem condições prévias.
O que foi observado entre quem consumiu mais flavonóis
Segundo Sam Lucas, professor de fisiologia cerebrovascular e coautor do estudo, nem mesmo o bom condicionamento físico foi capaz de evitar a queda temporária na função dos vasos sanguíneos entre os voluntários que ingeriram o cacau com baixos níveis de flavonóis.
“Um condicionamento mais elevado não impediu a redução na capacidade de dilatação dos vasos. Já após o consumo da bebida rica em flavonóis, todos mantiveram a função vascular semelhante ao que apresentavam antes das duas horas sentados”, explica.
Os cientistas também constataram que o nível de preparo cardiorrespiratório não interfere na forma como o corpo responde aos flavonóis. Isso sugere que esses compostos podem contribuir para a saúde dos vasos sanguíneos em pessoas com diferentes rotinas de atividade física.
A equipe reforça que novas pesquisas são necessárias e que os achados não substituem a prática regular de exercícios. Ainda assim, apontam que ajustes simples na alimentação podem oferecer uma camada adicional de proteção ao coração.