Café (Foto: Freepik)

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Café pode reduzir horas de sono, mas melhorar a qualidade do descanso; saiba como

Pesquisa indica que a cafeína reduz a duração do sono, mas aumenta o tempo em fases mais profundas e reparadoras

Apesar de, em alguns casos, o consumo de café encurtar o tempo total de sono, a bebida pode contribuir para um descanso mais eficiente. É o que aponta um estudo publicado em meados de outubro no Journal of Psychopharmacology. Segundo os pesquisadores, o efeito de “compensação” observado indica que o cérebro humano pode se adaptar ao uso cotidiano da cafeína, ajustando a qualidade do sono mesmo diante da redução das horas dormidas.

Amplamente consumida em todo o mundo, a cafeína está presente no café, no chá, no chocolate e nas bebidas energéticas. Pesquisas como essa procuram avaliar os efeitos do consumo prolongado da substância, com atenção especial às possíveis consequências para o sono e os mecanismos de adaptação do organismo.

Benjamin Stucky, pesquisador da Universidade de Zurique, na Suíça, e autor principal do estudo, ressalta que grande parte das pesquisas sobre cafeína é conduzida em ambientes altamente controlados e costuma exigir um período prévio de abstinência dos participantes — um fator que, segundo ele, pode influenciar os resultados obtidos.

Segundo Stucky, a maior parte das pesquisas sobre cafeína e sono avalia os efeitos da substância após períodos de abstinência, concluindo que ela tende a prejudicar o descanso. No entanto, o pesquisador observa que esse cenário não reflete o padrão mais comum de consumo. “A maioria das pessoas ingere café diariamente, por anos, o que permite que o corpo e o cérebro desenvolvam mecanismos de adaptação ao longo do tempo”, explicou em entrevista ao portal PsyPost.

Para contornar essa limitação, os cientistas cruzaram dados de duas grandes bases. A primeira foi o UK Biobank, do Reino Unido, que reuniu informações genéticas e relatos dos participantes sobre hábitos de consumo de cafeína. A segunda foi o HypnoLaus, da Suíça, responsável por fornecer dados detalhados sobre o sono de cerca de 1,7 mil pessoas, obtidos por meio da polissonografia — exame que monitora diferentes funções do organismo durante o repouso.

A integração dessas bases permitiu ampliar a análise para além dos questionários, incluindo a observação direta da atividade cerebral dos participantes enquanto dormiam.

Como o café atua durante o sono

No novo estudo, os participantes foram organizados em dois grupos principais: aqueles com consumo elevado de cafeína — definido como quatro ou mais bebidas cafeinadas por dia — e os com ingestão moderada, de até três bebidas diárias.

Para reforçar a robustez dos achados, os pesquisadores aplicaram duas abordagens estatísticas distintas. Uma delas analisou variações genéticas associadas ao metabolismo da cafeína; a outra comparou participantes com características semelhantes, como idade, índice de massa corporal (IMC) e nível socioeconômico.

A análise indicou que o consumo elevado e habitual de cafeína está associado a uma diminuição do tempo total de sono. De acordo com os dados observacionais e de pareamento, essa redução foi estimada em aproximadamente 11 a 13 minutos por noite.

Os dados de monitoramento cerebral, no entanto, apontaram um efeito positivo na qualidade do sono entre os consumidores frequentes de cafeína, mesmo com a diminuição das horas dormidas. Nesse grupo, foi registrada maior presença de ondas cerebrais lentas, conhecidas como delta, associadas aos estágios mais profundos do sono, fundamentais para a recuperação física e mental.

Os pesquisadores destacam que os achados ainda não permitem afirmar se o consumo contínuo de cafeína é benéfico ou nocivo à saúde. Ainda assim, os resultados ajudam a ampliar o entendimento sobre seus efeitos no organismo. Para Stucky, as evidências não reforçam a hipótese de que a ingestão habitual da substância cause impactos altamente negativos na qualidade do sono.


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