Na última quinta-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou um comunicado de alerta ao público e aos profissionais de saúde sobre um evento adverso raro, porém grave, relacionado ao uso de medicamentos que contêm semaglutida, como o Ozempic. Esse princípio ativo está presente em remédios bastante utilizados no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade, como Ozempic, Rybelsus e Wegovy, todos fabricados pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk.
A recomendação da Anvisa surgiu após análises do Comitê de Avaliação de Risco em Farmacovigilância (PRAC), da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que identificou uma possível ligação entre a semaglutida e a ocorrência de uma condição chamada neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica, conhecida como Noiana. Por isso, a agência brasileira solicitou que essa possível reação adversa passe a constar nas bulas desses medicamentos.
A Noiana é uma lesão no nervo óptico provocada por uma redução no fluxo sanguíneo na região, o que compromete o funcionamento das células nervosas e pode causar perda repentina da visão. A condição afeta principalmente pessoas acima dos 50 anos e costuma estar associada a fatores de risco como hipertensão, diabetes, aterosclerose, tabagismo e compressão do nervo óptico. Segundo o Manual MSD, a perda de visão causada pela Noiana é súbita, indolor e normalmente atinge apenas um dos olhos.
“Trata-se de uma condição que pode ser irreversível e que exige atenção imediata. Os profissionais devem alertar seus pacientes sobre este risco, mesmo que raro, e orientá-los sobre os sinais de alerta. Os pacientes que tiverem sintomas como perda repentina de visão, visão turva ou piora rápida da visão durante o tratamento com semaglutida devem procurar atendimento médico imediatamente. Caso a Noiana seja confirmada, o tratamento com semaglutida deve ser interrompido”, orienta a nota divulgada pela Anvisa.
A preocupação com os possíveis efeitos adversos da semaglutida foi intensificada por estudos realizados na Dinamarca. No início do ano, dois trabalhos científicos indicaram um risco aumentado de danos no nervo óptico em pacientes que usam Ozempic para tratar diabetes tipo 2, o que pode levar à perda severa e definitiva da visão. Essa conclusão reforça evidências já levantadas por uma pesquisa publicada em julho de 2024, a qual sugeriu que o uso do medicamento poderia dobrar a chance de ocorrência da Noiana.
Outro estudo recente adicionou mais um dado preocupante: uma possível associação entre os medicamentos Ozempic e Wegovy e um aumento no risco de desenvolver degeneração macular relacionada à idade — uma doença ocular que pode evoluir para a cegueira. A farmacêutica, no entanto, respondeu às novas publicações com cautela.
Em nota enviada à imprensa, a Novo Nordisk declarou que “não conclui uma relação causal entre o uso de análogo de GLP-1, semaglutida e Degeneração Macular Relacionada à Idade”. A empresa ressaltou ainda que a molécula foi submetida a estudos clínicos robustos, envolvendo mais de 52 mil pacientes, além de contar com dados pós-comercialização que equivalem a 33 milhões de pacientes-ano.
A farmacêutica reafirmou sua posição com base nos dados acumulados até o momento: “os dados não indicam uma possibilidade razoável de relação causal entre semaglutida e a Neuropatia Óptica Isquêmica Anterior não Arterítica” e acrescentou que o “perfil de risco-benefício da semaglutida permanece favorável”.
Mesmo com essa declaração, a Novo Nordisk informou que está colaborando com a EMA para realizar as atualizações necessárias nas bulas dos medicamentos, de modo que a Noiana passe a ser listada oficialmente como uma reação adversa muito rara.