A ideia de que mulheres precisam dar conta de tudo ainda é romantizada por muitos — mas a realidade por trás disso tem sido cada vez mais alarmante. Do acúmulo de funções em casa à cobrança por desempenho no ambiente profissional, a sobrecarga tem cobrado seu preço: a saúde mental.
Dados recentes revelam que as mulheres são duas vezes mais afetadas por transtornos de ansiedade do que os homens. E isso não é mera coincidência. Estudos apontam que fatores sociais, culturais e biológicos se entrelaçam para formar um cenário desigual, em que o adoecimento feminino se torna quase previsível.
Do duplo turno ao esgotamento emocional
A rotina exaustiva vivida por tantas mulheres não se resume apenas à carreira. A dupla jornada — trabalho remunerado somado às tarefas domésticas e cuidado com os filhos — tem sido um dos principais gatilhos para o esgotamento físico e emocional.
Um relatório da ONG Think Olga aponta que a sobrecarga de responsabilidades foi o segundo fator mais citado por mulheres ao descrever os impactos na saúde emocional. Além disso, questões como desigualdade salarial e insegurança financeira agravam ainda mais o quadro.
Segundo o estudo Esgotadas, a instabilidade financeira é hoje o principal motivo de insatisfação das brasileiras. Mesmo com formações equivalentes, elas seguem ganhando menos e enfrentando mais desafios para alcançar estabilidade.
Ambientes tóxicos: o peso invisível da hostilidade no trabalho
Se engana quem pensa que os desafios terminam na porta do escritório. Assédio moral, sexual e a sensação constante de insegurança são realidades para muitas trabalhadoras brasileiras. De acordo com a mesma pesquisa, 1 em cada 6 mulheres relata que o medo de sofrer violência no ambiente de trabalho afeta diretamente sua saúde mental.
Em resposta a esse cenário, a partir de maio de 2025, empresas brasileiras deverão implementar avaliações obrigatórias de riscos psicossociais. A medida, prevista na nova regulamentação da NR-1, exige atenção especial a questões como estresse, assédio e sobrecarga.
Sinais que não podem ser ignorados
Diante de tantas pressões, é fundamental reconhecer os alertas que o corpo e a mente emitem. Entre os principais sintomas estão: alterações bruscas de humor, insônia, cansaço persistente, distúrbios alimentares, dificuldade de concentração, isolamento social, ansiedade constante e dores físicas sem explicação médica.
Esses sinais, muitas vezes ignorados ou minimizados, são o início de um processo de adoecimento que pode se agravar rapidamente se não houver intervenção.
Autocuidado é sobrevivência — não luxo
Neste contexto, práticas de autocuidado não são capricho. São estratégia de proteção. E podem começar com atitudes simples, como estabelecer limites, manter uma boa rotina de sono, alimentar-se com equilíbrio e buscar apoio emocional.
Atividades físicas, meditação, socialização com pessoas queridas e, principalmente, aprender a dizer “não” são atitudes poderosas para preservar a saúde mental e emocional.
A sobrecarga tem um custo — e quando ela atinge a saúde, essa conta se torna alta demais para ignorar. O desafio agora é individual e coletivo: construir uma realidade onde a mulher não precise adoecer para que seja ouvida.