Cirurgias estéticas (Foto: Internet)

Lifestyle

Popularização do Ozempic impulsiona procura por cirurgias estéticas nos EUA

Perda de volume facial após emagrecimento com GLP-1 gera nova demanda por preenchimentos e facelifts, alerta dermatologista

O dermatologista Paul Jarrod Frank, conhecido por atender celebridades em Nova York, compartilhou observações sobre uma nova tendência de cirurgias estéticos que vem tomando espaço em sua clínica nos últimos dois anos. Com o aumento expressivo do uso de medicamentos como Ozempic e Wegovy entre americanos que buscam emagrecimento, Frank percebeu um crescimento acentuado na quantidade de pacientes enfrentando efeitos colaterais inesperados.

“Embora se sentissem muito melhor perdendo peso, de certa forma sentiam que pareciam mais velhos, e isso se devia à perda de volume no rosto”, disse Frank. O dermatologista passou a se referir ao fenômeno como “rosto de Ozempic”, um termo que ele acredita ter criado para descrever a aparência mais flácida e encovada que pode surgir após o uso prolongado desses medicamentos.

O termo, que rapidamente se espalhou nas redes sociais, está associado ao uso de substâncias GLP-1, como a semaglutida, presente no Ozempic e Wegovy. A droga atua no controle do apetite ao estimular a liberação de insulina, provocando a sensação de saciedade. Apesar de ser aprovada nos Estados Unidos para tratar diabetes tipo 2, a semaglutida vem sendo amplamente usada para emagrecimento, mesmo fora da indicação original.

De acordo com dados da organização KFF, cerca de um em cada oito adultos americanos já usou algum medicamento GLP-1. Entre eles, dois em cada cinco o fizeram exclusivamente para perder peso. Segundo Frank, mais de 20% de seus pacientes atualmente utilizam essas substâncias como parte de um “regime de longevidade”.

Com a rápida perda de peso, procedimentos como preenchimentos dérmicos, facelifts e enxertos de gordura passaram a ser mais procurados para restaurar o volume facial. “Você só pode reabastecer um balão desinflado até certo ponto, e muitas vezes a intervenção cirúrgica é necessária”, disse Frank. Ainda assim, ele ressalta que “apenas aumentar a dosagem de sua reposição de volume é mais do que suficiente” para muitos casos. “Alguém que pode ter usado uma seringa de preenchimento no passado agora está usando duas ou três.”

A tendência também foi notada pela Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (ASPS). Um levantamento recente mostrou que 2 em cada 5 pacientes que usam medicamentos GLP-1 consideram a cirurgia estética, e 1 em cada 5 já realizou algum procedimento.

Um desses casos é o de Kimberly Bongiorno, servidora pública de Mount Arlington, em Nova Jersey. Após passar por uma cirurgia bariátrica em 2019 e recuperar parte do peso na pandemia, ela iniciou o uso de Wegovy no ano passado. Apesar de reduzir seu peso de 77 kg para 57 kg, a perda acentuada trouxe novas preocupações. “Tudo simplesmente pendia e estava muito solto”, contou. “Parecia que eu tinha derretido. Foi horrível.”

Kimberly se submeteu a um deep plane facelift e a um neck lift com o cirurgião plástico Anthony Berlet. Os procedimentos reposicionaram músculos profundos e eliminaram o excesso de pele, restaurando as linhas do rosto e do pescoço. “Antes de fazer isso, eu provavelmente parecia mais perto dos 60, ou talvez até mais velha. E agora tenho pessoas que conheci recentemente que acham que tenho 40 e poucos anos”, afirmou. “É bom ouvir isso, porque por um tempo, eu não parecia saudável e certamente não estava feliz.”

Entre 2022 e 2023, o número de facelifts realizados nos Estados Unidos cresceu 8%, segundo a ASPS. Já o uso de preenchimentos com ácido hialurônico dobrou desde 2017, ano em que o Ozempic foi aprovado para diabetes, passando de 2,6 milhões para mais de 5,2 milhões em 2023.

Embora a organização não associe diretamente os números ao uso de GLP-1, o ex-presidente da ASPS, Steven Williams, reconheceu que esses medicamentos tiveram “um efeito global na cirurgia estética”. “Agora temos uma ferramenta novíssima que realmente tem eficácia para tantos pacientes”, disse Williams. Ele ressaltou que os GLP-1s oferecem uma alternativa menos invasiva do que cirurgias como o bypass gástrico.

Para ele, é essencial informar os pacientes sobre as mudanças físicas que podem ocorrer com a perda rápida de peso. “Agora podemos ter uma conversa honesta com os pacientes sobre uma ferramenta não cirúrgica que é eficaz na perda de peso”, afirmou. “E como parte dessa conversa, há a obrigação de dizer: ‘Olha, isso realmente vai funcionar, então você tem que estar preparado para o que vai ser parecer 9 ou 23 kg mais magro.’”

Apesar de recente, o “rosto de Ozempic” apenas dá nome a um fenômeno antigo. A perda de gordura subcutânea, que dá volume ao rosto, já era tratada por cirurgiões plásticos em pacientes com emagrecimento significativo muito antes da popularização dos GLP-1. O Sculptra, um dos preenchedores usados hoje, foi originalmente desenvolvido nos anos 1990 para pessoas vivendo com HIV, que também perdiam volume facial.

Como explicou Williams, “seu corpo na verdade não produz mais células de gordura quando adulto”. Ele completou: “À medida que perdemos peso, essas células encolhem, e o rosto vai perdendo o preenchimento natural que antes dava contorno e juventude à aparência”.

plugins premium WordPress