(Foto: Reprodução)

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Lifestyle

Mentoras do sexo: como o TikTok virou espaço de acolhimento entre profissionais

Influenciadoras compartilham suas vivências na prostituição e enfrentam críticas, ao mesmo tempo em que lutam contra o estigma e promovem segurança para outras mulheres.

Profissionais do sexo como Sara Müller, que compartilham sua rotina nas redes sociais, enfrentam críticas e elogios por tratarem abertamente de um tema ainda tabu. Sara, que atua na área desde 2015, defende que falar sobre sua vivência não é romantizar, mas sim trazer informação e quebrar estigmas. Ela acredita que o trabalho sexual deve deixar de ser marginalizado e vê as redes como ferramenta para conscientização e segurança.

Nos últimos anos, o número de influenciadoras do trabalho sexual aumentou no TikTok e Instagram. Além de compartilhar suas experiências, muitas oferecem dicas de segurança, beleza, mentoria e orientações para iniciantes. Nomes como Mariel Fernanda e Dihmayara usam seus perfis para aconselhar mulheres maiores de idade que desejam atuar no meio digital, embora alertem contra a ideia de que o “job” é uma vida fácil ou glamourosa.

Críticas recorrentes giram em torno da suposta romantização da prostituição, com medo de que os conteúdos influenciem jovens sem mostrar os desafios reais da profissão. Algumas trabalhadoras do sexo também expressam preocupação com mulheres “iludidas” e reforçam que o trabalho não é um conto de fadas. Muitas apontam que o lado difícil corresponde a grande parte da vivência e deve ser reconhecido e discutido com responsabilidade.

A criadora Deusa Artemis, por exemplo, usa as redes sociais como ferramenta de combate à desinformação e estigmatização. Para ela, esconder as realidades da profissão só favorece homens que exploram mulheres desinformadas. Ela também critica a hipocrisia social, em que profissionais do sexo são marginalizadas, mas ao mesmo tempo procuradas por muitos homens. Assim como outras mulheres do meio, ela busca construir uma comunidade informada e segura.

A ativista Monique Prado ressalta o impacto positivo da visibilidade online, tanto para combater o preconceito quanto para promover dignidade. Ela destaca que muitos profissionais do sexo sustentam suas famílias com o trabalho e devem ter o direito de contar sua história sem serem julgadas. Já o antropólogo Thaddeus Blanchette lembra que o estigma da profissão alimenta o discurso da glamourização, e que as redes apenas seguem um padrão histórico de adaptação do setor às mídias disponíveis.

Embora a prostituição voluntária entre adultos não seja criminalizada no Brasil, profissionais da área continuam sem direitos trabalhistas garantidos. Especialistas alertam para a desigualdade na forma como o trabalho sexual é vivido no país, com diferentes níveis de exposição a violência e vulnerabilidade. O uso das redes sociais, embora traga riscos, também oferece oportunidades de autonomia, proteção e transformação da imagem pública da categoria.

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