Na trilha de um dos lançamentos mais esperados da Netflix em 2024, Beverly Hills Cop: Axel F (ou Um Tira da Pesada 4), há uma brasileira no comando de uma orquestra completa: Raphaela Lacerda, maestra nascida em São Paulo e atualmente em ascensão meteórica nos Estados Unidos. Reconhecida por sua versatilidade e musicalidade refinada, ela foi a responsável por reger a trilha sonora da produção, marcando presença em um dos centros mais prestigiados do audiovisual global.
“Foi uma experiência única”, define Raphaela em entrevista ao FeedTV. “A dinâmica de estúdio é muito diferente da de um concerto ao vivo. No palco, temos liberdade de tempo e espaço para a interpretação; no estúdio, tudo é cronometrado, cada detalhe precisa estar no lugar certo para acompanhar a imagem.” Trabalhar com música dos anos 80 reimaginada para o público contemporâneo exigiu criatividade e precisão. “Foi um processo intenso e colaborativo e acompanhar em tempo real as camadas sendo gravadas e o resultado final tomando forma foi uma experiência única, que só o ambiente de estúdio é capaz de proporcionar.”

Além da complexidade musical, o tempo era um inimigo constante. “Cada faixa precisa ser gravada dentro do tempo previsto para sua sessão, o que torna o processo uma verdadeira maratona”, conta. Para este projeto, Raphaela recebeu as partituras do coro e da orquestra com apenas 24 horas de antecedência. “Passei a madrugada estudando, já que, diferente do repertório sinfônico tradicional, a música de filme é inédita não há gravações anteriores ou referências em que se apoiar.”
O trabalho no filme da Netflix coroa uma trajetória construída com rigor e paixão. Atualmente Regente Residente da San Bernardino Symphony Orchestra, na Califórnia, Raphaela Lacerda também atua como Diretora Musical da Diamond Youth Symphony Orchestra e integra projetos pedagógicos e artísticos em Los Angeles. Em 2023, foi agraciada com o Emerging Professional Award da Association of California Symphony Orchestras, além do prêmio 30 Under 30 no 50º Distrito da Assembleia da Califórnia
Com sólida formação acadêmica, ela concluiu seu mestrado em Regência Instrumental pela Azusa Pacific University, Raphaela também já regeu orquestras como a OSESP, OFMG e Buffalo Philharmonic Orchestra, além de ter gravado a icônica Across the Stars, de Star Wars, no lendário Streisand Scoring Stage da Sony.

Apesar de toda essa bagagem sinfônica, ela vê o estúdio como um novo palco. “A música é muitas vezes o elo invisível entre a emoção e a narrativa”, afirma. “Ela intensifica o suspense, revela camadas de significado, e muitas vezes, permanece na memória do público mesmo após o final do filme.”
Questionada sobre o que vem a seguir, Raphaela mostra entusiasmo: “Tenho novos projetos sinfônicos em andamento com orquestras nos Estados Unidos, incluindo estreias de obras contemporâneas e iniciativas educativas com jovens músicos.” E quando o assunto são novas parcerias no audiovisual, ela mantém o mistério: “Estou em conversa com compositores ligados a plataformas de streaming, ainda não posso revelar detalhes, mas posso dizer que sigo cada vez mais envolvida com essa ponte entre a música orquestral e o audiovisual.”
Mesmo sem projetos imediatos no Brasil, a conexão permanece: “Adoraria retomar essa conexão em breve. Meu desejo é continuar transitando entre esses dois mundos, sala de concerto e estúdio, que se alimentam e se inspiram mutuamente.”
Com talento, disciplina e sensibilidade, Raphaela Lacerda se firma como uma das vozes mais promissoras da nova geração de regentes. Seja nas salas de concerto ou nas trilhas sonoras de Hollywood, sua batuta está afinada com o futuro da música.
