O cenário noturno e caótico de Copacabana ganha contornos crús e provocativos em “Lonely People – Nunca Confie em Ninguém”, novo longa-metragem independente do cineasta carioca Elir. Produzido sem orçamento durante o lockdown, o filme adota uma estética de guerrilha e narrativa mumblecore para abordar temas como solidão, violência urbana e delírios conspiratórios, tudo embalado por uma estética sombria e visceral.
Inicialmente concebido como uma série, Lonely People foi adaptado para o formato de longa e traz um recorte concentrado da noite carioca a partir da perspectiva de personagens marginalizados. No enredo, cinco pessoas compartilham um apartamento claustrofóbico enquanto dramas individuais se entrelaçam com o submundo das drogas e da corrupção policial. Em paralelo, dois policiais, usuários e cúmplices do sistema, cruzam com o mítico traficante Zulu, em uma narrativa onde ninguém parece ser inocente.
A produção foi realizada com equipe e elenco formados por amigos artistas, tendo como locação principal o “Claustro”, prostíbulo ficcional comandado por “Madame”, personagem de Elcides Freitas — maquiador de longa data da atriz Bia Bergallo. O espaço, uma casa histórica que pertenceu ao lendário Renato Pascoal, já foi tema de série no GNT e empresta à narrativa um peso simbólico e afetivo.
Filmado em Cinema 4K DCI Cinemascope (2.39:1), o longa aposta na força da fotografia e da edição — ambas assinadas por Elir — para compensar as limitações de orçamento. O resultado é uma obra crua, provocativa e pulsante, que não apenas revela um Rio de Janeiro à margem, mas também se afirma como resistência artística em tempos de retração cultural.