Tecnologia no agro (Foto: Instagram)

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Agronegócio

Tecnologia de Fórmula 1 no agronegócio: João Araújo defende levar inovação das pistas para o campo

A ideia é adaptar sistemas criados para corridas de alta performance a setores que dependem cada vez mais de dados e eficiência

Tecnologias desenvolvidas para a Fórmula 1, um dos ambientes mais exigentes do mundo em termos de desempenho e precisão, começam a ganhar espaço fora das pistas — inclusive no agronegócio. A ideia é adaptar sistemas criados para corridas de alta performance a setores que dependem cada vez mais de dados, eficiência e tomada de decisão rápida.

Esse debate ganhou força com a entrada do empresário brasileiro João Araújo no Conselho Consultivo da empresa britânica Salus Optima, que atua no desenvolvimento de soluções tecnológicas baseadas em inteligência artificial. A proposta, segundo ele, é discutir como métodos usados no automobilismo podem ser aplicados a áreas produtivas como o campo.

“A Fórmula 1 trabalha com margens mínimas de erro, análise constante de dados e decisões em tempo real. Esses princípios são totalmente transferíveis para o agronegócio, que também lida com variáveis complexas e riscos elevados”, afirmou Araújo.

Do box para a lavoura

Na Fórmula 1, sensores espalhados pelo carro monitoram temperatura, desgaste de peças, consumo de combustível e desempenho do piloto em tempo real. Esses dados são analisados por algoritmos que indicam ajustes imediatos durante a corrida.

No agronegócio, tecnologias semelhantes já começam a ser usadas no monitoramento de solo, clima e maquinário. Sensores instalados em equipamentos agrícolas, por exemplo, podem identificar falhas antes que elas causem prejuízos, além de ajudar a definir o melhor momento para plantio, irrigação ou colheita.

Outro paralelo está na chamada manutenção preditiva. Enquanto equipes de corrida antecipam a troca de componentes para evitar quebras, produtores rurais podem usar o mesmo conceito para prever falhas em tratores, colheitadeiras ou sistemas de irrigação, reduzindo custos e tempo de parada.

“A lógica é a mesma: usar dados para agir antes do problema aparecer”, explicou Araújo.

Decisão rápida e uso de dados

Durante uma corrida, estratégias são alteradas em segundos com base em mudanças no clima ou no desempenho dos concorrentes. No campo, decisões rápidas também fazem diferença, especialmente diante de eventos climáticos extremos ou oscilações de mercado.

Modelos de inteligência artificial inspirados nesse tipo de análise podem cruzar informações meteorológicas, históricas e operacionais para apoiar produtores na escolha de insumos, no manejo de culturas e até na logística de escoamento da produção.

Especialistas em tecnologia agrícola apontam que esse tipo de ferramenta tende a ganhar importância à medida que o setor enfrenta desafios como aumento de custos, pressão ambiental e necessidade de maior produtividade.

Tecnologia exige capacitação

A adoção dessas soluções, no entanto, não depende apenas de equipamentos ou softwares. Há um desafio central na formação de profissionais capazes de interpretar dados e operar sistemas cada vez mais complexos.

“A tecnologia só gera impacto real quando as pessoas sabem usá-la. Sem capacitação, ela vira apenas um investimento caro”, disse Araújo. Para ele, o avanço tecnológico precisa caminhar junto com programas de treinamento e educação continuada no campo.

A discussão ocorre em um momento em que relatórios internacionais indicam que uma parcela significativa da força de trabalho global precisará se requalificar nos próximos anos, especialmente em áreas ligadas à tecnologia e à análise de dados.

Tendência além do agronegócio

A aplicação de conceitos da Fórmula 1 fora do automobilismo não é inédita. Práticas semelhantes já foram adotadas em setores como saúde, logística e indústria. No agronegócio, a expectativa é que essa abordagem contribua para aumentar a eficiência e reduzir desperdícios, sem substituir o conhecimento prático do produtor rural.

“O objetivo não é automatizar tudo, mas apoiar decisões melhores”, afirmou Araújo. “Assim como na Fórmula 1, o fator humano continua sendo decisivo.”

A discussão sobre o uso de tecnologia de alta performance no campo reforça um movimento mais amplo: a aproximação entre inovação, educação e setores tradicionais da economia, em um cenário em que produzir mais, com menos recursos e mais precisão, se tornou uma exigência global.

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