O agronegócio brasileiro depende de uma cadeia extensa e, muitas vezes, invisível ao consumidor final. Fertilizantes, logística, energia e minerais estratégicos são parte essencial desse sistema, mas raramente entram no centro do debate público. Para entender melhor esse cenário, o Feed TV conversou com João José Oliveira Araújo, executivo com atuação nos setores de mineração, logística e tecnologia, e conselheiro de empresas no Brasil e no exterior.
Com formação em engenharia, economia, mineração e metalurgia, João Araújo construiu sua trajetória passando por setores como construção civil, sistema bancário e indústria metalúrgica, antes de se aprofundar na relação entre mineração e agronegócio.
Feed TV: O agronegócio costuma ser associado apenas à produção no campo. Onde a mineração entra nessa equação?
João José Oliveira Araújo: A mineração é um elo fundamental da cadeia do agro, especialmente quando falamos de fertilizantes e insumos estratégicos. O potássio, por exemplo, é essencial para a produtividade agrícola, e o Brasil historicamente dependeu de importações. Isso gera vulnerabilidade cambial e logística. Quando conseguimos desenvolver ativos minerais e estruturar a logística internamente, o impacto é direto no custo e na previsibilidade do produtor rural.
Feed TV: A dependência de fertilizantes importados ainda é um gargalo?
João José Oliveira Araújo: Sem dúvida. O país avançou em algumas frentes, mas ainda há um longo caminho. O desafio não é apenas extrair o minério, mas integrar toda a cadeia: transporte, armazenamento, distribuição e eficiência tributária. Quando essas etapas não conversam entre si, o custo final explode e afeta o agro como um todo.
Feed TV: No caso do manganês, qual a relação com o agronegócio?
João José Oliveira de Araújo: O manganês é essencial para a produção de aço, e o aço está presente em praticamente toda a infraestrutura do agro: máquinas, silos, armazéns, portos e ferrovias. Quando há eficiência na produção e na logística desse minério, o impacto aparece indiretamente em toda a cadeia agrícola, reduzindo custos estruturais.
Sob sua gestão, a Mineração Buritirama consolidou a operação da Mina de Buritirama, no Pará, como a maior mina de manganês a céu aberto da América Latina, com produção voltada tanto ao mercado interno quanto à exportação para regiões como Europa e Ásia.
Feed TV: A logística é um dos principais desafios do setor?
João José Oliveira de Araújo: É talvez o maior deles. O Brasil é um país continental e ainda sofre com gargalos históricos. O que buscamos foi integrar rotas: enquanto alguns produtos precisam ser exportados, outros precisam ser distribuídos internamente. Quando você organiza isso de forma inteligente, evita ociosidade e reduz custos. Isso beneficia tanto a mineração quanto o agronegócio.
Feed TV: Como a tecnologia entra nesse cenário?
João José Oliveira Araújo: Hoje não existe competitividade sem tecnologia. A inteligência artificial permite prever demanda, otimizar estoques e melhorar a tomada de decisão. No contexto europeu, onde atuo como conselheiro da Salus Optima, há um foco muito forte em eficiência e conformidade regulatória. A parceria da empresa com a McLaren reflete justamente essa busca por desempenho aliado a precisão e responsabilidade.
Feed TV: O que o Brasil pode aprender com o modelo europeu?
João José Oliveira Araújo: Planejamento de longo prazo e integração entre setores. A Europa trabalha muito bem a relação entre indústria, tecnologia e sustentabilidade. No Brasil, temos recursos naturais abundantes, mas precisamos evoluir na forma como conectamos esses ativos à tecnologia e à logística. Isso vale tanto para a mineração quanto para o agronegócio.
Feed TV: Olhando para o futuro, qual o principal desafio do agro brasileiro?
João José Oliveira de Araújo: Garantir competitividade sem depender excessivamente de fatores externos. Isso passa por fertilizantes, infraestrutura, energia e dados. Quem conseguir integrar esses elementos de forma eficiente estará mais preparado para enfrentar ciclos econômicos e climáticos cada vez mais desafiadores.
A trajetória de João José Oliveira Araújo ilustra como setores aparentemente distantes estão, na prática, profundamente conectados. Em um país onde o agronegócio é motor da economia, compreender esses bastidores pode ser decisivo para o futuro da produção e da segurança alimentar.








