Jack Merrill, conhecido por seu papel como Detetive March na série Revenge, decidiu abrir o coração 46 anos após uma experiência angustiante: seu sequestro e estupro por John Wayne Gacy, um dos serial killers mais notórios dos Estados Unidos, responsável pela morte de pelo menos 33 pessoas. Atualmente com 65 anos, o ator compartilhou sua história em uma entrevista à Revista People.
Merrill revelou que desejava falar sobre o ocorrido anos atrás, mas hesitou quando, ao discutir o tema com um executivo de Hollywood, recebeu um alerta de que se abrir sobre seu sequestro poderia prejudicar sua reputação na indústria do entretenimento. O empresário perguntou: “É assim que você quer ser lembrado?” Ao que Merrill respondeu: “Não. Acho que não. Isso me deixaria atado a ele.” Essa conversa o impediu de compartilhar sua experiência até agora.
Jack Merrill teve a sorte de sobreviver ao terrível crime cometido contra ele. Meses depois do sequestro, em 21 de dezembro de 1978, John Wayne Gacy, que era empreiteiro, foi finalmente capturado. Ele enfrentou acusações de ter assassinado 33 jovens e, em decorrência de seus crimes horrendos, foi condenado à pena de morte. Gacy foi executado por injeção letal em 1994, encerrando assim uma das histórias mais sombrias da criminologia americana.
Como tudo aconteceu?
O crime contra Jack Merrill ocorreu quando ele tinha 19 anos, em um momento em que sua relação com a família era complicada e ele já morava sozinho em uma quitinete em Chicago. Para pagar as contas, ele trabalhava em boates LGBT, sonhando em se tornar ator, mas sem saber como. Um dia, ao sair do trabalho, um estranho o abordou, oferecendo uma carona.
“Eu comecei a dar a volta no quarteirão algumas vezes, mas ele passou a dirigir mais rápido e ali já tinha se transformado em um bairro muito ruim. Ele disse: ‘Tranque sua porta. É perigoso.’ Eu disse que eles não falavam sobre isso nos jornais porque era ruim para os negócios na vizinha Rush Street, que ficava ao lado, e ele respondeu: ‘Como você sabe disso, hein? Você é inteligente. Você não é como essas outras crianças'”, relatou.
Foi então que o jovem entrou no carro do serial killer, sem saber de quem se tratava. “Ele parou perto da rampa da Kennedy Expressway e perguntou se eu já tinha usado ‘poppers’ – [um tipo de droga com base em nitrito amila]. Ele puxou esta garrafa marrom, salpicou um pouco de líquido em um pano e passou na minha cara. Eu desmaiei e, quando acordei, estava algemado. Eu vi a saída para Cumberland na via expressa, perto do aeroporto, e a só sabia que estava longe de casa”.
“Ele me disse para ficar calado. Uma luz bateu em seus olhos e de repente percebi o quão perigoso ele era. Eu era um rapaz de 19 anos. Eu sabia que não podia irritá-lo. Eu só tive que lidar com a situação e agir como se tudo estivesse bem. Essa é a maneira que eu aprendi quando criança, aprendi a ficar quieto quando meus pais ficavam furiosos”, completou.
Segundo o ator, o cativeiro era um local escuro e ele compreendeu se tratar de uma armadilha. “Ele perguntou se eu confiava nele, e eu disse que sim, então ele tirou as algemas. Havia um bar no meio da casa. Nós tomamos cerveja, e então ele colocou as algemas de volta e me arrastou pelo corredor e colocou uma engenhoca caseira no meu pescoço. Tinha cordas e polias, e contorcia-me pelas costas e pelas minhas mãos algemadas de uma forma que, se lutasse, sufocaria. Eu tentei me soltar em um ponto e comecei a perder o ar. Então, ele enfiou uma arma na minha boca. Depois, ele me estuprou no quarto. Eu sabia que se eu lutasse contra ele, eu não teria muita chance. Nunca me assustei nem gritei. Eu também senti pena dele de certa forma, como se ele não quisesse necessariamente fazer o que estava fazendo, mas ele não conseguia parar. Ficamos lá por horas. De repente, ele disse: ‘Eu vou levá-lo para casa.'”
Merrill relata que voltou para casa por volta das 5 da manhã, mas o criminoso o deixou longe de onde deveria estar. Ao parar o carro, Gacy deu seu número de telefone a Merrill e sugeriu que se encontrassem novamente.
Ao chegar em casa, Merrill descartou o número no vaso sanitário e tomou um banho. Ele não chamou a polícia, pois na época não sabia que estava lidando com um serial killer. Depois, foi a um restaurante comer e fez um pacto consigo mesmo: não deixaria que aquela experiência arruinasse sua felicidade.